19/08/2021

Mulheres no esporte: Pesquisa sobre equidade de gênero

O Instituto de Pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), realizou pesquisa qualitativa para ouvir brasileiras que atuam como atletas, paratletas e técnicas desportivas sobre experiências e perspectivas em relação à igualdade de gênero no ambiente esportivo. Foram realizadas 22 entrevistas em profundidade entre 07 de dezembro de 2019 e 05 de março de 2020.

 

Atletas começam a se sentir representadas

A partir das entrevistas, é possível constatar que, mesmo diante dos desafios, as atletas afirmam ter havido avanços na história da mulher no esporte. Marcos recentes são as transmissões televisivas de campeonatos como a Copa Mundial Feminina de Futebol 2019 e a projeção de figuras públicas que valorizam o esporte feminino.

No ano de 2019, a Copa Mundial Feminina de Futebol da França foi transmitida nacionalmente por redes de televisão. Segundo as atletas, tal fato proporcionou destaque a figuras como a jogadora brasileira Marta, que ganhou voz e deu identidade ao esporte feminino.

Yane Marques, dirigente que assumiu a presidência da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em 2019 e Joana Maranhão, atleta engajada no combate ao assédio, também são citadas como fundamentais no fomento ao debate sobre equidade de gênero.

A Senadora Leila Barros também é mencionada como referência no debate de respeito ao esporte e na defesa das mulheres, como atletas afirmam a seguir:

“Leila e Yane estão cumprindo um papel decisivo para a mulher. Estão começando a participar”. (Atleta, Taekwondo)

“Eu acho que as mulheres hoje estão ocupando mais espaço. Uma minoria feminina lutou muito e conseguiu”. (Atleta, Handebol)

 

O impacto de ser mulher no desenvolvimento da carreira

Apesar dos avanços em relação a mulheres no esporte, é possível observar que já na infância a menina vivencia suas primeiras experiências de desigualdade diante da prática do esporte, mesmo que não compreenda naquele período. À medida que almeja uma possível projeção no alto rendimento e amadurece em relação à atuação no esporte, passa a ponderar as diferentes exigências que ocorrem entre meninos e meninas.

A percepção é de que as mulheres são menos incentivadas a ingressar no esporte de alto rendimento. Segundo as entrevistadas, as próprias famílias, de modo geral, recuam no apoio às atletas quando elas estão prestes a entrar em categorias de alto rendimento. Enquanto os homens seriam beneficiados por uma cultura de amplo incentivo ao esporte.

A associação cultural do esporte como um ambiente predominantemente masculino exige que as mulheres se “enquadrem” dentro de uma perspectiva criada para o sexo oposto.

“Os homens sofrem menos exigências sociais do que as mulheres. As mulheres são mais cobradas...Eu não tive dificuldade de me tornar atleta, ser atleta era meu objetivo. ” (Atleta, Tênis)

 

De acordo com as entrevistadas, a mulher ainda é considerada mais frágil e com menor potencial em termos de desempenho do que os atletas masculinos. Por consequência, elas são menos valorizadas.

“O menino é mais incentivado ao esporte. O menino ganha bola. A menina ganha fogão. O menino pode ser moleque, a menina não...poucas meninas podem praticar esportes masculinos, e isso, em si, já gera uma diferença. ” (Atleta, Luta)

 

Os temas correlacionados à mulher também se tornam tabus pela falta de informação e debate no ambiente esportivo. São grandes os desafios que as atletas enfrentam em relação a:

  • Casamento e gravidez
  • Falta de reconhecimento da atleta enquanto profissional
  • Discriminação sexual com mulheres que praticam esportes considerados masculinos
  • Clubes, equipes e patrocinadores privilegiam times masculinos
  • Assédio no meio esportivo

 

As mulheres e os cargos de liderança esportiva

Um ponto relevante na temática em questão é a falta de transparência dos critérios para preenchimento de cargos de liderança. Segundo as atletas entrevistadas, as escolhas passam pela ordem política, ou seja, de relacionamento interno da diretoria, e não por critérios previamente definidos.

Além disso, a disponibilidade ou interesse das mulheres em ocupar cargos de gestão é restrita. As atletas têm a percepção de que existe um “preconceito velado”, não explícito, à presença de mulheres nesses ambientes.

 

Políticas públicas de apoio e incentivo à mulher atleta

As políticas públicas são reconhecidas como um passo essencial para a construção de uma sociedade que garanta não apenas equidade, como também, respeito. Ocupar espaços é o primeiro passo de um longo caminho de mudança cultural em que a mulher poderá ser vista além dos filtros sociais que rotulam ou estigmatizam o comportamento feminino.

Oportunamente, as atletas entrevistadas com as mais diversas experiências apresentam indicações de políticas públicas que permeiam educação, ressignificação cultural, apoio financeiro, promoção de acessibilidade, inclusão e, não menos importante, reconhecimento. Os pilares fundamentais elencados são postos em políticas públicas básicas, com a intenção genuína de valorização das histórias de mulheres que lutaram e lutam para ocupar um espaço predominante masculino no esporte.

A equidade de gênero no esporte brasileiro é vista pelas atletas como um processo ainda em andamento. Nesse contexto, elas acreditam que a atuação do Estado, em todas as esferas governamentais, na formulação de políticas públicas como as sugeridas no levantamento pode trazer às mulheres brasileiras espaço e respeito para a prática do esporte. De maneira que a representação feminina do país em Olimpíadas e Paraolimpíadas se torne ainda mais significativa. E que essa participação inspire cada vez mais meninas a ocupar espaços de direito não apenas no esporte, mas em todas as áreas ainda predominantemente masculinas.