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A margem de manobra do governo para cumprir seus compromissos fiscais está mais estreita. O setor de petróleo — fonte fundamental de receita para os cofres públicos — deverá sofrer queda expressiva neste ano. De acordo com projeções publicadas pelo GLOBO, os royalties arrecadados pela União cairão em torno de 30% (de R$ 62 bilhões para R$ 44 bilhões). Os dividendos pagos pela Petrobras, 40% (de R$ 58 bilhões para R$ 34 bilhões). A arrecadação de impostos pagos pela estatal, por fim, deverá ser 20% menor (caindo de R$ 70 bilhões para R$ 55 bilhões). Ao todo, a queda é estimada em R$ 57 bilhões, ou 40% do déficit primário projetado para 2023.

Receitas menores do petróleo dificultarão a meta de zerar o déficit no ano que vem, promessa feita com a aprovação do novo arcabouço fiscal. A queda impõe ao Tesouro o desafio de buscar ainda mais arrecadação para compensar as perdas. Não será tarefa fácil, diante dos compromissos de gastos assumidos. Mesmo que deem certo todos os planos do governo para arrecadar mais — taxação de fundos exclusivos e offshore, mudança nas regras de julgamentos de pleitos dos contribuintes junto ao Fisco etc. —, ainda assim será preciso buscar alternativas às receitas do petróleo.

De acordo com a Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, apenas os dividendos da Petrobras e a arrecadação derivada da exploração de recursos naturais representaram 4,3% da receita líquida da União de janeiro a agosto. No mesmo período de 2022, o índice foi 6%. De 2017 a 2019, a contribuição da estatal e do setor era 1,9%. Em 2020, foi 1,7%. E em 2021, 3,7%. Tais números mostram que o ano passado foi um ponto fora da curva que não deverá se repetir. Estudos preveem o fim do ciclo de grande contribuição para o Erário das atividades petrolíferas, por meio de royalties, dividendos e impostos.

O conflito no Oriente Médio poderá, é verdade, ter efeito na variação do preço do petróleo. Depois dos ataques terroristas do Hamas, houve leve alta na cotação. O governo americano anunciou que seus estoques registraram o maior aumento desde fevereiro, suavizando a alta. Os responsáveis pela política fiscal em Brasília também acompanham de perto o conflito. Mas, mesmo que as variações no preço possam favorecer momentaneamente o Tesouro, trata-se de receita volátil, dependente de fatores instáveis, tanto de mercado quanto geopolíticos.

A atividade petrolífera tem sido crítica para a receita da União nos últimos anos, mas não pode ser considerada um pilar confiável para nenhuma política fiscal. O governo precisará de outras opções para compensar eventuais frustrações de receita. No Brasil, as prioridades deveriam ser o corte de gastos e a otimização da máquina pública.

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