A manutenção da taxa básica de juros em um patamar elevado penaliza a sociedade e pressiona o governo a tomar medidas para o alívio das contas públicas. Para que a Selic, hoje em 13,75%, inicie uma trajetória de queda, o Executivo terá que trabalhar para dar credibilidade ao arcabouço fiscal e melhorar a atividade econômica como um todo.
Um dos efeitos colaterais da ala dos juros é o impulso na inadimplência. Em abril de 2023, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu 8,08% em relação ao mesmo período de 2022, chegando a 66,08 milhões de brasileiros, um recorde na série histórica.
Outro ônus da elevada taxa de juros é o impacto negativo na geração de empregos, especialmente no setor de serviços, que, segundo o IBGE, concentra cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB). O setor vem crescendo por 11 trimestres consecutivos, mas a expectativa de analistas é que esse ciclo perca força a partir deste ano devido à alta da Selic.
A nova âncora fiscal pretende atuar o sentido de reduzir as incertezas e, consequentemente, os juros. Mas a simples aplicação da regra não será suficiente para a obtenção de resultados consistentes. A Instituição Fiscal Independente (IFI) aponta falta de clareza no novo arcabouço apresentado pelo governo federal.
Além do Executivo, o Senado não contribui com a credibilidade do arcabouço ao ampliar a lista de despesas que estão fora dos limites da nova regra. Agora, cabe à Câmera devolver esses gastos ao texto, sob pena de afrouxar a regra. Seria um péssimo recado ao mercado e ao Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC).
O governo segue com o discurso de pressão sobre o Banco Central. Nesta quarta-feira (21), quando o Copom anunciou a manutenção da taxa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o BC “está contratando um problema. Contratando inflação futura e o aumento da carga tributária futura”.
A equipe econômica tem o direito de participar do debate sobre a taxa de juros mas, acima de tudo tem o dever de gerar um melhor ambiente econômico.