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Saúde fiscal do Brasil está em risco? Mercados têm adquirido uma crescente dose de apreensão; confira este e outros destaques desta sexta (18)

A Bolsa parece já estar assimilando a ideia de que as metas estipuladas para os anos de 2023 e 2024 possam não ser alcançadas; entenda

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Data de publicação
18 de agosto de 2023
Categoria
Investimentos
Após cinco altas seguidas do Ibovespa, recentes mudanças em Brasília geram tensão no mercado; entenda
Imagem: Pexels

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, a maioria dos mercados de ações asiáticos continuou a apresentar um viés negativo nesta sexta-feira, influenciados pela persistente apreensão em relação aos possíveis aumentos das taxas de juros nos Estados Unidos. No entanto, alguns sinais de medidas adicionais de estímulo adotadas pela China contribuíram para que as ações locais conseguissem registrar alguns ganhos.

A situação global ainda reflete as inquietações dos investidores, que nos últimos dias acentuaram suas preocupações em relação à desaceleração econômica chinesa e às ameaças de um colapso no setor imobiliário do país.

Como exemplo recente, a segunda maior empresa de desenvolvimento imobiliário da China, a conhecida Evergrande, entrou com pedido de proteção contra falência nos EUA por meio do Capítulo 15 (vá ao último tópico desta newsletter para conferir o que isso quer dizer).

Na Europa, os mercados acionários também iniciaram a sexta-feira com quedas, seguindo a mesma tendência, assim como os futuros das bolsas americanas. Nos últimos dias, as ações nos Estados Unidos ofereceram um desempenho moderado para os mercados regionais, após dados revelarem uma redução maior do que o esperado nas reivindicações semanais de auxílio-desemprego, indicando certa resiliência no mercado de trabalho. Isso proporciona ao Federal Reserve uma margem maior para manter as taxas de juros elevadas. Em meio a esse contexto de aversão ao risco em âmbito global e ao aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, o dólar está ganhando força (com consequente enfraquecimento do real brasileiro).

A ver…

· 00:54 — Lágrimas de Orçamento

No contexto brasileiro, após experimentar sua décima terceira queda consecutiva (contagem ainda em andamento), os mercados têm adquirido uma crescente dose de apreensão em relação à saúde fiscal do país. Recentemente, a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal emitiu um alerta a respeito de uma “deterioração acentuada” no resultado primário da União a partir de maio, corroborando a perspectiva anteriormente apresentada por Haddad sobre a desaceleração das receitas tributárias.

O governo, que tem uma orientação inclinada ao gasto, tem enfrentado dificuldades na implementação de iniciativas para incrementar as receitas no curto prazo, gerando incertezas em torno da eficácia do arcabouço fiscal.

O mercado, por sua vez, parece já estar assimilando a ideia de que as metas estipuladas para os anos de 2023 e 2024 possam não ser alcançadas, reconhecendo que não é uma tarefa trivial “criar” R$ 100 bilhões ou R$ 150 bilhões da noite para o dia. Vale ressaltar que a aprovação do arcabouço fiscal, que inclusive deve ser adiada para a próxima semana, ainda não ocorreu, e essa perspectiva parece cada vez mais distante, conforme observado pelo próprio relator do projeto na Câmara em declarações recentes. Outros projetos também estão em pauta, como a desoneração da folha de pagamento e a tributação de fundos offshore. Avançar com sucesso nessa agenda seria um indicativo significativo de que as tensões entre o governo e o Congresso Nacional podem estar sendo suavizadas.

· 01:50 — A alta dos yields

Nos Estados Unidos, as taxas de juros estão experimentando uma notável expansão, mesmo sem mudanças significativas na política monetária, à medida que o mercado começa a precificar o fim do ciclo de aperto monetário. Após mais um aumento considerável no dia de hoje, o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos atingiu 4,307%, alcançando o patamar mais elevado desde 7 de novembro de 2007. Como consequência desse movimento, o dólar está se fortalecendo e os mercados acionários estão enfrentando quedas.

O que está impulsionando essa dinâmica? Em decorrência da contínua resiliência econômica, a probabilidade de um novo aumento nas taxas de juros até novembro agora se mostra mais provável. Conforme indicado pelo rastreador econômico do Federal Reserve de Atlanta, o GDPNow, a previsão é de um crescimento da economia a uma taxa anualizada de 5,8% no terceiro trimestre, com uma taxa de desemprego historicamente baixa de 3,5%. Os investidores atribuem uma probabilidade maior de um aumento nas taxas de juros em novembro, após uma pausa em setembro.

Há, pelo menos, um efeito obtido pelo Federal Reserve: o custo do financiamento para a aquisição de residências atingiu níveis que não eram observados há mais de duas décadas. A taxa média de hipoteca de 30 anos agora está em 7,09%, marcando o nível mais alto desde abril de 2002. Essas taxas têm um impacto significativo na acessibilidade à compra de moradias, especialmente em um cenário em que já existe escassez de habitações. Embora possa demorar para que o aumento de custos surta efeito, eventualmente pode ter implicações prejudiciais para a economia como um todo.

· 02:48 — Vai ou não vai entrar em recessão

O mais recente relatório trimestral do Federal Reserve sobre as condições de crédito nos Estados Unidos destaca que os bancos estão adotando critérios mais rigorosos ao conceder empréstimos, o que intensifica a persistência do risco de uma recessão no país. Economistas calculam uma probabilidade de aproximadamente 60% de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses. Na zona do euro, essa probabilidade é de 50%, enquanto no Reino Unido ela está situada em um ponto intermediário.

Embora o relatório não aponte diretamente para uma crise iminente de crédito, as condições mais restritivas podem acarretar uma diminuição na disponibilidade de crédito nos próximos trimestres, o que, por sua vez, poderia ter um impacto negativo sobre o crescimento da economia americana. Tais restrições têm a capacidade de transformar empresas que já enfrentam dificuldades em negócios insolventes, especialmente aquelas de menor porte. Em resumo, os bancos estão se tornando mais cautelosos ao conceder crédito, e essa tendência é provável que perdure.

De maneira simultânea, essas condições restritivas podem influenciar o Federal Reserve a adiar futuros aumentos nas taxas de juros e, possivelmente, a partir de março de 2024, considerar uma abordagem mais flexível em sua política monetária. O cenário predominante sugere que as adaptações ocorrem quando os bancos centrais são compelidos a reduzir as taxas de juros ao identificarem a iminência de uma recessão. Isso não altera a perspectiva de uma trajetória de “soft landing”, na qual uma recessão é evitada.

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· 03:45 — O problema dos juros elevados

Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) realizou uma avaliação que indicou que os aumentos nas taxas de juros nas principais economias do mundo não tiveram efeitos benéficos para as instituições bancárias. Pelo contrário, essa medida pode intensificar os riscos relacionados à estabilidade financeira e também exercer pressão sobre o crescimento econômico. Algumas instituições bancárias experimentaram prejuízos em investimentos em títulos, o que causou desconforto entre determinados clientes e resultou em saques significativos. Esse cenário, por sua vez, levou múltiplos bancos a enfrentar dificuldades financeiras, seguindo um padrão similar ao que ocorreu nos Estados Unidos no primeiro trimestre.

Conforme expresso no documento do fundo, a implementação rápida de medidas restritivas nas políticas monetárias também pode ter impactos nos mercados de derivativos e de taxas de juros. Com recordações da turbulência financeira ocorrida no início deste ano, juntamente com episódios de corrida bancária, as reformas regulatórias estão requerendo que as instituições bancárias reforcem suas reservas de capital e mantenham uma maior proporção de títulos em sua composição. Este desafio se apresenta como uma questão a ser enfrentada ao longo dos próximos 12 meses, com potenciais repercussões de alcance global.

· 04:30 — Capítulo 15: Flores de Jade Desbotando

O gigante chinês do setor imobiliário, o Grupo Evergrande, submeteu uma solicitação de proteção de ativos ao abrigo do Capítulo 15 do código de falências dos Estados Unidos na corte de Nova York, conforme anunciado ontem. Esse dispositivo legal visa salvaguardar os ativos da empresa nos EUA enquanto acordos internacionais para reestruturação de dívidas estão sendo negociados em outras jurisdições. Em determinadas circunstâncias, acordos de reestruturação de dívidas globais demandam a utilização do Capítulo 15 como parte do processo final de transação.

As empresas estatais de desenvolvimento imobiliário da China emitiram alertas a respeito de perdas generalizadas, levantando preocupações de que a crise imobiliária esteja se alastrando do setor privado para empresas com respaldo governamental. Estes sinais indicam que as construtoras estatais não estão mais imunes à crise imobiliária que se desenrola há dois anos, a qual enfraqueceu a economia e provocou uma série de inadimplências por parte de empresas privadas.

Diante deste panorama, as autoridades chinesas instaram os bancos estatais a intensificarem sua intervenção no mercado cambial durante esta semana, com o intuito de conter a volatilidade do yuan. O governo também está considerando o uso de ferramentas como redução dos requisitos de reservas cambiais dos bancos, a fim de prevenir uma rápida depreciação da moeda. Essa decisão ocorreu depois que o yuan atingiu uma taxa de 7,35 por dólar, próximo do nível mais fraco desde 2007.

No entanto, a questão central reside na possibilidade de que a crise no setor imobiliário seja de natureza estrutural. Dezoito das 38 construtoras estatais listadas em Hong Kong e na Ásia continental relataram perdas preliminares nos seis meses encerrados em 30 de junho. Levando isso em consideração, a firma Capital Economics revisou para baixo sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China para 2023, passando de 5,5% para 5,0%. Essa tendência provavelmente se aprofundará nos próximos meses, a menos que medidas de estímulo significativas sejam implementadas. Nas palavras de Ray Dalio, a China está confrontada com o desafio de realizar um processo de desalavancagem econômica bem-sucedido, tentando evitar uma recessão de balanço como a ocorrida no Japão na década de 1990.