BRASÍLIA — Pelo terceiro mês consecutivo, a dívida pública caiu em relação ao PIB. De acordo com o Banco Central (BC), a dívida ficou em 79,6% do PIB em janeiro. É a primeira vez que o indicador fica abaixo do patamar de 80% desde abril de 2020.
O resultado divulgado nesta sexta-feira mostra uma continuidade na trajetória de queda da relação dívida/PIB que começou em fevereiro do ano passado, quando estava em 89%. O principal fator foi o crescimento do PIB nominal, ou seja, sem descontar a inflação no período.
O efeito da variação do PIB e os resgates da dívida foram os fatores que mais contribuíram para a queda. Já a alta nos juros teve um efeito altista.
Como o PIB é denominador da relação com a dívida, quando ele aumenta, o resultado é a queda do indicador.
O PIB de 2021 avançou porque a atividade econômica demonstrou uma recuperação em relação ao primeiro ano da pandemia. Além disso, a inflação acima dos 10% contribui para aumentar o chamado PIB nominal.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, explica que há um efeito da inflação, mas o controle de gastos feito pelo governo também contribui para a melhora no cenário fiscal.
— Na prática a gente está vendo um controle de gastos mesmo por parte do governo, o teto de gastos funcionando, e isso vem contribuindo. A inflação melhora a parte da arrecadação, mas o governo consegue segurar os gastos e isso acaba gerando o superávit e é esse superávit é que impacta na redução da dívida — disse.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, projeta que a dívida volte a crescer este ano e encerre 2022 em 84,8% do PIB. Segundo a instituição, essa alta será impulsionada pelo aumento na conta de juros, em razão do aumento da Selic, e uma piora no resultado primário.
O indicador é acompanhado de perto pelo mercado porque mede a capacidade do país de pagar suas dívidas. O número engloba o resultado do governo federal, o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e os governos estaduais e municipais.
Superávit recorde
O resultado do setor público consolidado em janeiro foi de superávit de R$ 101,8 bilhões, o maior de toda a série histórica iniciada em dezembro de 2001. O resultado é bem superior aos R$ 58,5 bilhões de janeiro do ano passado.
Segundo o BC, houve superávit nas três áreas consideradas, de R$ 77,4 bilhões no governo central, R$ 20 bilhões nos governos regionais e R$ 4,4 bilhões nas estatais.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, disse que a notícia é boa e foi impulsionada principalmente pelo aumento real da arrecadação, mas precisa ser vista com um pouco de parcimônia por conta da trajetória futura.
— A única parcimônia que a gente tem quando a gente olha para o futuro é a possibilidade de uma desaceleração dessa arrecadação na virada do primeiro para o segundo trimestre por conta da desaceleração da atividade econômica que é prevista — disse.
Na quinta-feira, o Tesouro Nacional já mostrava que o resultado das contas do governo tinham sido o melhor da série histórica do Tesouro, iniciada em 1997.