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Felipe Salto: saída de secretários deixa clara a “lambança” de Guedes

Economista aponta que furar teto de gastos para viabilizar Auxílio Brasil é “desrespeito às regras do jogo, veneno na veia da economia”

atualizado

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Marcos Oliveira/Agência Senado
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1 de 1 imagem colorida felipe salto economista - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, afirmou, em entrevista ao Metrópoles, que a debandada dos secretários do Ministério da Economia aponta “clara discordância de profissionais técnicos com a lambança” do ministro Paulo Guedes.

“Os secretários Bruno Funchal e Jeferson Bittencourt são profissionais técnicos, e quando eles saem fica clara a discordância com a lambança. Não vai mais existir o teto de gastos como conhecíamos, esse teto vai ser jogado para cima de maneira voluntarista”, critica o economista.

Vinculada ao Senado, a IFI foi criada em 2016, com o objetivo de ampliar a transparência das contas públicas do país. A entidade trabalha na divulgação de relatórios de acompanhamento fiscal, mensurando impacto de eventos fiscais relevantes, especialmente os decorrentes de decisões dos Poderes.

Em atrito com o governo, Salto chegou a ter a demissão pedida por Guedes no início do ano, durante participação do ministro em audiência no Senado. O embate entre Guedes e o diretor da IFI ocorreu após a instituição divulgar relatório apontando risco de o governo federal furar o teto.

Na ocasião, em ataque frontal à IFI, o ministro da Economia defendeu que a entidade chefiada por Salto “tem previsões muito fracas”. “O IFI tem trabalhado muito mal. Eu acho até que o Senado deveria rever um pouco quem é que lidera aí a IFI [Felipe Salto], porque, aparentemente, é um economista que tem errado 10 em cada 10”, disparou Guedes à época.

A previsão da instituição, no entanto, nunca esteve tão perto de se tornar realidade, e o cenário é, inclusive, admitido pelo próprio chefe da Economia, que defende uma “licença temporária” para ultrapassar o limite de gastos previsto no orçamento.

Em resposta ao ministro, Salto defende que “o tempo é o senhor da razão”. “Estávamos certos. O risco ao teto, que temos apontado há anos, se materializou. É um desrespeito às regras do jogo, veneno na veia da economia.”

“Cenário pessimista”

Em relatório de acompanhamento fiscal divulgado na quarta-feira (20/10), Salto e demais economistas da IFI apontam que, no balanço de riscos, as discussões sobre o Auxílio Brasil e a PEC dos Precatórios “representam, hoje, dois riscos relevantes”. Segundo os balanços, a incerteza sobre o tamanho e o financiamento do novo gasto social contribuem para o cenário de instabilidade econômica.

“O cenário pessimista está se materializando com as recentes decisões do governo federal. Se a PEC dos Precatórios for aprovada, o cenário fica ainda mais preocupante. Será o fim do teto de gastos. Os juros já estão reagindo, mostrando que o efeito será direto da dívida nos juros e nos juros para o crescimento”, explica Salto.

O economista se mostra preocupado com a gestão econômica do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “É extremamente preocupante a volta da contabilidade criativa que estamos vendo nos últimos dias”, completou.

“Soluções inteligentes”

Recentemente, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendeu que Executivo e Legislativo devem trabalhar a fim de que o novo programa do governo federal para atender famílias de baixa renda, o Auxílio Brasil, respeite o teto de gastos. O senador cobrou “soluções inteligentes“.

Salto avalia que uma solução inteligente para o impasse que ronda a criação do novo programa social esteja na redução do valor a ser pago aos beneficiários. Atualmente, a vontade do governo é destinar R$ 400 às famílias atendidas pelo programa.

“A nossa proposta vai no meio do caminho: um novo Bolsa Família de R$ 250 para 16,4 milhões. Talvez seja aquém da necessidade dessas famílias, mas respeitaria as regras do jogo”, sugere o economista.

“Essa seria a solução inteligente. A solução mais adequada é aquela que respeita a reponsabilidade fiscal. É uma falácia dizer que respeitar as regras do jogo vai contra o gasto social, porque quando você respeita as regras do jogo o crescimento é maior e há mais espaço para você fazer gastos públicos eficientes”, prosseguiu.

Nas projeções da IFI, com o valor fixado em R$ 250, seria possível acomodar os R$ 89,1 bilhões previstos para sentenças e precatórios e R$ 46 bilhões em despesas do Auxílio Brasil dentro do teto de gastos de 2022.

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