Economia Brasília

Patamar da dívida pública renova recorde e chega a 90% do PIB em fevereiro

A alta foi de 14,8 pontos percentuais desde fevereiro de 2020; só neste ano, o indicador subiu 1,1 ponto percentual
Indicador atingiu o maior patamar da série histórica Foto: Jorge William / Agência O Globo
Indicador atingiu o maior patamar da série histórica Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — A dívida pública brasileira atingiu o patamar de 90% do PIB em fevereiro, após subir 0,6 pontos percentuais (p.p) em apenas um mês, de acordo com as estatísticas divulgadas nesta quarta-feira pelo Banco Central (BC). Esse é o maior patamar da série histórica iniciada em dezembro de 2006.

Orçamento 2021: Congresso está aberto a negociar, diz Rodrigo Pacheco

De acordo com o BC, o aumento se deu principalmente por conta da emissão líquida de dívida e da incorporação dos juros. O crescimento do PIB nominal teve um efeito de redução do indicador, mas não o suficiente para compensar o aumento nos dois outros fatores.

Desde fevereiro de 2020, a relação dívida/PIB subiu 14,8 p.p com a necessidade dos gastos extraordinários de enfrentamento à pandemia e com a redução do PIB neste período. Só neste ano, a alta foi de 1,1 p.p.

Efeito pandemia: Indústria e varejo já reduzem produção e falam em alta de preços

Essa trajetória de alta deve continuar, de acordo com as projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI). No cenário do órgão ligado ao Senado, a dívida chegará a 92,7% do PIB no final deste ano e seguirá aumentando por pelo menos 10 anos. Em 2024, por exemplo, a projeção é que o indicador chegue a 96,15%.

Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos, ressalta que 90% é alto não só na comparação com a série histórica, mas com outros países emergentes, que em média tem uma relação dívida/PIB de 60% a 65%. Segundo ela, é um nível preocupante que vem subindo mais rápido do que o esperado.

De acordo com a economista, a expectativa era que a dívida chegasse a 90% do PIB em meados do ano e alcançasse 91% ao final de 2021. Rocha aponta que a atividade econômica fraca e a incerteza sobre evolução dos gastos no país para os próximos meses são fatores relevantes o comportamento do indicador.

— Além do crescimento, tem a questão da trajetória do déficit do governo. Em janeiro tivemos superávit, mas em fevereiro tivemos déficit das contas públicas, não é tão forte, mas mostra normalização para um cenário de déficit no Brasil ao longo dos próximos meses — analisou a economista.

Na Austin Rating, a expectativa é um pouco pior. De acordo com Alex Agostini, economista-chefe da casa, a dívida deve atingir 100,1% do PIB no final do ano.

Orçamento 2021: Entenda em 10 pontos os problemas no texto aprovado no Congresso

Ele ressalta que as despesas estão crescendo e medidas que poderiam auxiliar na redução do endividamento, como a agenda de privatizações e reformas, ainda não estão alinhadas com o Congresso.

— Neste primeiro semestre a situação vai continuar um pouco delicada, depois vai ficar um pouco melhor. Se o governo conseguir acelerar todo esse processo de privatizações, concessões, e também começar já a aprovação das reformas que são importantes, aí melhora a confiança e atrai investimento estrangeiros antes, aí pode ser que dê uma equilibrada. Se isso não acontecer, a gente vai ver um primeiro semestre bastante delicado para as contas públicas — disse o economista.

A relação dívida/PIB chegou a superar os 90% em novembro de 2020, mas o Banco Central revisou os números, o que fez com que o patamar caísse 88,4% no mesmo mês. Desde então, o indicador subiu repetidas vezes até atingir os 90% novamente em fevereiro.

Guedes: Ministro pede compromisso com a saúde e responsabilidade fiscal. Tesouro vê risco de retrocesso nas contas públicas

A estatística considera a dívida pública bruta, que compreende o governo federal, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os governos estaduais e municipais. O dado é acompanhado de perto pelo mercado financeiro para medir a capacidade do país de pagar suas dívidas, o chamado nível de solvência.