Inflação em alta. Ruim para o consumidor, boa para Bolsonaro

Inflação alta prejudica o consumidor e desorganiza a economia. A médio e longo prazos é ruim para todos. No momento pré-eleitoral, porém, pode beneficiar o Governo Bolsonaro, que terá mais verbas para gastar e dívida menor para pagar

A inflação que vem castigando os consumidores, especialmente os mais pobres, será de grande utilidade ao projeto de reeleição de Jair Bolsonaro.

A emenda constitucional 95/2016 determina que o teto de gastos será corrigido, anualmente, pela inflação do período de 12 meses encerrado em junho do exercício anterior a que se refere a lei orçamentária. Assim, o teto que valerá para 2022 será o atual de 2021, corrigido pela inflação acumulada de julho de 2020 a junho de 2021, que deve ficar em torno de 8%.

O governo Bolsonaro terá cerca de R$ 120 bilhões a mais para gastar em ano de eleições gerais. Porem, não é só isso. A inflação também vem contribuindo este ano para reduzir o déficit fiscal da União tendo em vista que as despesas foram projetadas em um ambiente de inflação menor e as receitas tiveram ganhos na arrecadação devido a arrancada no crescimento.

A Instituição Fiscal Independente do Senado Federal (IFI) acredita que com os fatores acima apontados e mais o crescimento imprevisto da economia a dívida líquida do setor público deve cair para 85,6% Produto Interno Bruto (PIB). Estes especialistas em contas públicas alertam, no entanto, que a situação fiscal do Brasil é delicada ao ponto do nosso endividamento estar 30,5 pontos percentuais acima da média de todos os países emergentes.

Um dos fatores que também contribuiu para melhoria deste indicador de endividamento foi a redução das taxas de juros pagas nos papéis públicos. Com a elevação da Taxa Selic para 4,25%, o custo da rolagem esta praticamente dobrando. Mas é verdade que, do ponto de vista das pessoas e instituições que aplicam em papéis públicos, estes juros são negativos diante da inflação de 8,06% que corrói o poder de compra da moeda.

O Banco Central sinalizou, na sua última reunião, que continuará elevando as taxas de juros nos próximos meses, o que levou os bancos a acreditar que a Selic chegará a 6,5% este ano.

A inflação tem sido alimentada pela elevação dos preços das commodities, dos alimentos exportados pelo Brasil, pelos combustíveis, pelo material da construção civil e pela desvalorização do real diante do dólar. Com os últimos aumentos dos juros, já começou a ocorrer uma desvalorização do dólar pelo ingresso da moeda estrangeira de investidores que começam a ver boas oportunidades no mercado brasileiro. Um real menos desvalorizado contribuiu também na redução dos preços das commodities. Soja, milho, trigo a preços menores ajuda no esforço de conter preços e elevar a oferta de comida aos brasileiros.

Muitos economistas têm dúvidas sobre a eficácia dos juros para enfrentamento das causas apontadas acima que estão alimentando a inflação. A verdade é que, embora a inflação traga grandes prejuízos ao setor privado e aos consumidores, tem impactos até benéficos aos orçamentos dos governos, pois as despesas executadas são feitas em valores nominais e a arrecadação dos impostos pelo preço do dia.

Caso este crescimento de 4,2% do PIB, como prevê os economista da IFI, ou de 5,5%, na visão dos banqueiros, venha se espalhar para todos os segmentos produtivos, a economia poderá crescer de forma sustentável e, assim, poderá ocorrer uma melhora nas finanças públicas. É possível até que, em 2022, haja uma melhora no emprego e na renda dos brasileiros se o Banco Central conduzir bem a sua política monetária em 2021.

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