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Bastidores: equipe econômica vê fala de Pacheco sobre teto e auxílio como 'retórica política'

Candidato do Planalto ao comando do Senado disse que o teto de gastos não pode ser 'intocado' e pode ser revisto para abrir caminho a políticas tidas por ele como necessárias, como uma nova rodada do auxílio emergencial 

Foto do author Adriana Fernandes
Por Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - Apesar do pânico entre investidores e no mercado financeiro com o aceno feito por Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato ao comando do Senado, a uma possível revisão do teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação, a equipe econômica encarou as declarações do parlamentar como “retórica política” em meio à disputa pela cadeira hoje ocupada por Davi Alcolumbre (DEM-AP).

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Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Pacheco disse que o teto de gastos não pode ser “intocado” e pode ser revisto para abrir caminho a políticas tidas por ele como necessárias, como uma nova rodada do auxílio emergencial ou um incremento no programa Bolsa Família.

As declarações repercutiram imediatamente no mercado, porque o democrata, que é o candidato apoiado pelo Palácio do Planalto na corrida pelo comando do Senado, adotou um discurso oposto à agenda defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Além disso, Pacheco detém hoje o maior número de apoios dentro da Casa, contra a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).

Mesmo com a repercussão no mercado, o tom é de contemporização na equipe econômica. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a avaliação é que é difícil saber o que é discurso político devido à proximidade com a reta final da disputa pela presidência do Senado e o que é convicção própria de Pacheco. O democrata reúne em torno de sua candidatura um arco bastante diverso de siglas, que vai do PSC, tido como uma legenda conservadora, até do PT, opositor ao governo Bolsonaro e que é contra a manutenção do teto de gastos.

Rodrigo Pacheco (DEM-MG) é o candidato do Planalto à presidência do Senado. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 21/1/2021

A pouco menos de duas semanas da eleição para a mesa do Senado, Pacheco, na avaliação da área econômica, pode ter usado da “retórica” para evitar desgaste junto a seus apoiadores num momento delicado da disputa. Por isso, a declaração foi vista com cautela dentro do Ministério da Economia, já que nada disso significa uma mudança de rota imediata na condução das negociações com o Congresso pelas medidas de ajuste.

Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, a declaração de Pacheco e o apoio dado pelo Planalto à sua candidatura não devem ser interpretados juntos como condescendência da ala política do governo a uma alteração no teto ou à defesa de mais gastos sociais sem medidas de compensação. O mantra continua sendo o de que a equipe do presidente Jair Bolsonaro segue alinhada na defesa da agenda de Guedes. A própria reação do mercado é vista como um “alerta” ao parlamentar sobre o risco de seguir um caminho diverso.

No mercado financeiro, a entrevista do candidato à presidência do Senado reforçou o sinal amarelo que já está aceso devido à combinação de risco de atraso na vacinação contra covid-19, pressão por prorrogação do auxílio emergencial e inflação mais elevada.

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A definição no comando do Congresso é considerada essencial para destravar a pauta econômica. A mais urgente é o Orçamento de 2021, mas uma série de reformas também aguarda na fila. O foco da área econômica também se divide com o cronograma da vacinação, já que a imunização da população é importante para a retomada da atividade econômica em definitivo.

Equipe de Guedes teme que demora em vacinação comprometa retomada

Nos últimos dias, a equipe econômica monitorou com preocupação os atrasos no envio de vacinas e insumos para a fabricação de imunizantes. A demora na vacinação pode comprometer a retomada e ampliar ainda mais a pressão por novas ajudas do governo.

As críticas à atuação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, não chegam a ser abertas, mas há um desconforto grande com as falhas nas negociações para a compra das vacinas e jogam “combustível” para o aumento de gastos. O Ministério da Economia não se envolveu nas negociações para as compras da vacina com a orientação de Paulo Guedes de que a função da área econômica é garantir que não falte dinheiro para adquirir os insumos e doses necessários.

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O Orçamento já prevê R$ 20 bilhões para as vacinas. Não são de hoje também as críticas reservadas de assessores de Guedes à atuação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que tem afetado os negócios de comércio e, agora, o diálogo para a compra da vacina num mundo em que os Países são "cada vez mais interdependentes".

Um integrante da equipe econômica, que falou na condição de anonimato, diz que é preciso sustentar a pressão pelaprorrogação do auxílio nesses primeiros três meses do ano, período apontado mais difícil. A equipe econômica está convencida que, se conseguir “segurar o lado fiscal”, a economia vai ganhar a partir do segundo trimestre. 

O ministro não descarta, no entanto, como já mostrou reportagem do Estadão, a prorrogação do auxílio, no caso de piora da pandemia. Nesse caso, Guedes já avisou que o valor do auxílio terá que ser menor do que os R$ 300, valor concedido nos últimos meses de 2020. Em dezembro, segundo projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, os gastos com o pagamento de auxílio caíram para R$ 17 bilhões, bem abaixo dos R$ 51 bilhões pagos por mês no início da pandemia.

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A equipe econômica, porém, avalia que não há espaço fiscal para novos socorros e quer evitar ao máximo ter de recorrer a esses programas. Em caso de necessidade, outras áreas podem acabar sofrendo cortes, como é o caso do FGTS, que precisaria diminuir seu Orçamento para novos financiamentos na área de habitação em 2021 para dar lugar a uma nova rodada de saques emergenciais para os trabalhadores. Por essa dificuldade, não há ainda qualquer acerto nesse sentido.

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