Recuperação econômica ainda não está consolidada, alerta órgão ligado ao Senado

Instituição Fiscal Independente pondera riscos da lentidão da vacinação e disseminação das variantes, recuperação do mercado de trabalho, crise hídrica e pressão da inflação
Bares e restaurantes fechados em São Paulo Foto: Edilson Dantas / 03-03-2021

BRASÍLIA – Apesar da melhoria dos indicadores, a recuperação econômica brasileira ainda não está consolidada. Os fatores de risco, no entanto, já estão mapeados: lentidão da vacinação e disseminação das variantes, recuperação do mercado de trabalho, crise hídrica e pressão da inflação são os principais.

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O alerta consta em avaliação da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, que divulgou relatório de acompanhamento fiscal (RAF) nesta quarta-feira.

O documento também pondera que o processo de aperto da política monetária, iniciado pelo Banco Central para conter o avanço da inflação, acaba reduzindo o apoio à economia nesse momento de recuperação, em que a taxa de desemprego ainda está em patamar elevado.

 “A busca de espaço para acomodar políticas com retorno eleitoral e a consequente piora da percepção sobre o risco fiscal dificultam a tarefa do Banco Central de ancorar as expectativas de inflação à meta”, diz o texto.

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Riscos para recuperação

O RAF pontua que os riscos que ameaçam a consolidação da recuperação econômica já estão mapeados. Uma preocupação é a disseminação de variantes da Covid-19, como a Delta, frente a um índice não tão elevado de brasileiros imunizados com duas doses da vacina.

“É válido pontuar que alguns países com taxas de vacinados mais elevadas voltaram a registrar aumento de casos pela variante Delta. Nesse sentido, o ritmo de expansão do comércio mundial, que beneficiou a economia brasileira ao longo do ano, pode ser também atenuado”, descreve o relatório.

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Para além das dificuldades relacionadas à pandemia, a IFI cita o risco de racionamento energético, em função do baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Além da ameaça ao abastecimento, a crise hídrica já tem um efeito imediato na conta de luz, que voltou a subir e pressionar a inflação.

A estiagem é parte deste nó, mas um conjunto de problemas estruturais – como a falta de flexibilidade do modelo tarifário, baixa diversificação da matriz energética e atraso em obras – influencia este quadro.

A IFI alerta para a situação do mercado de trabalho: apesar da melhoria do nível de emprego com carteira assinada, o mercado informal ainda não se restabeleceu, o que mantém o patamar de desemprego elevado. A disparada da inflação e consequente elevação da taxa básica de juros também podem afetar o dinamismo da retomada.

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Apesar desses riscos, que ampliam a incerteza em relação à economia neste semestre, a IFI destaca que os indicadores de prévia do PIB já divulgados pelo Banco Central e o efeito de carregamento, “colocam um viés de alta na projeção da IFI para o PIB de 2021, atualmente em 4,2%, no cenário base”.

 Porém, justamente por causa desses fatores, as projeções para 2022 tendem a ser menores.

Nesta semana, o boletim Focus, do BC, apontou o mesmo quadro: em função de uma avaliação de risco fiscal e juros mais altos, o mercado piorou a projeção do PIB para 2022. A expectativa mais recente é de um crescimento de 2,04%. No início do ano, era de 2,5%.