Economia

Dívida pública cai pelo quinto mês seguido e chega a 83,8% do PIB

Crescimento do PIB foi o principal motivador da queda no indicador
O mercado está de olho na situação fiscal do país Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O mercado está de olho na situação fiscal do país Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira que a relação dívida/PIB caiu pelo quinto mês seguido em julho e atingiu 83,8%.

A trajetória da dívida pública vem caindo desde o pico histórico de fevereiro, quando atingiu 89,3% do PIB. Em março, ficou em 87,8%, em abril, 85,6%, maio, 84,6% e em junho chegou a 84%.

A estatística considera a dívida pública bruta, que compreende o governo federal, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os governos estaduais e municipais. O dado é acompanhado de perto pelo mercado financeiro para medir a capacidade do país de pagar suas dívidas, o chamado nível de solvência.

Segundo o BC, a queda na dívida em julho aconteceu principalmente por conta do crescimento do PIB. Como o PIB é denominador da relação com a dívida, quanto ele aumenta, o resultado é de queda no indicador.

Por outro lado, novas emissões de dívida e incorporação de juros contribuíram para reduzir essa queda.

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, aponta que o resultado veio acima do esperado pelo mercado por conta do crescimento da atividade econômica. Ela também explica que a inflação alta também tem impacto porque reajusta as despesas e receitas do governo.

— São dois movimentos que apontam para lados opostos, mas fazem com que o resultado final desse indicador acabe apresentando movimentos um pouco mais expressivos — destacou.

No último relatório de acompanhamento fiscal da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado, a projeção é que a relação dívida/PIB termine o ano em 85,6%.

O mercado também está de olho na dívida/PIB por conta do recente aumento na percepção de risco fiscal do país. As conversas em torno da solução para o pagamento dos precatórios no próximo ano e aumento do Bolsa Família têm sido os principais temas discutidos por investidores nas últimas semanas.

Para Argenta, os números positivos divulgados pelo BC dizem respeito a algo que já aconteceu e não arrefecem as tensões fiscais que estão acontecendo atualmente. A economista explica que o que está em discussão são as regras do jogo, como o pagamento dos precatórios, e isso dificulta a projeção de cenários.

— Todos os economistas estão com dificuldades gigantescas de fazer projeções fiscais porque a gente não sabe qual é o cenário, não temos parâmetros. Os dados de hoje não são capazes de mudar o tom das discussões que estamos tendo — explicou.

A economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressalta que as contas fiscais são hoje o “calcanhar de Aquiles” do Brasil e toda vez que há uma discussão sobre esse tema, o mercado “entra em pânico”.

—  Enquanto a gente não entrar num ritmo de controle de gastos sem que a gente tenha um temor de que possa ter um aumento de gastos, por exemplo, auxílio emergencial ou situação de medidas populistas ainda mais considerando um ano de eleição, esses dados ainda vão seguir sub judice do mercado — disse.

Setor público e déficit

O setor público consolidado, que reúne governo central, emprestas estatais e governo regionais, o déficit de julho foi de R$ 10,3 bilhões, uma redução na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando o resultado negativo foi de R$ 81,1 bilhões. No ano passado, os gastos com a pandemia aconteceram em um volume bem maior do que em 2021.

Para comparação, no acumulado deste ano, o déficit é de R$ 15,5 bilhões. Já no mesmo período do ano passado, o déficit era de R$ 483,8 bilhões.