Houve, “certamente”, erro da equipe econômica nas negociações do Orçamento, disse há pouco o ministro da Economia, Paulo Guedes, no evento Brazil Investment Forum, promovido pelo Bradesco BBI. “Deve ter tido erro da equipe econômica? Certamente. Tem erro de quando ministro pula cerca e vai negociar? Sim.”
Guedes acrescentou que há sempre um ministro mais ousado na busca de mais recursos. “Tem ministro fura-teto aqui; é natural”, disse, sem citar nomes. Nos bastidores, essa atuação é atribuída ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
“Isso bota em risco o grupo inteiro”, lamentou. “É do jogo, é legítimo e está sendo abordado de forma construtiva.”
Todos os envolvidos têm um pouco de razão e um pouco de culpa na crise do Orçamento de 2021, segundo Guedes. Ele ressalvou, porém, que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), “não se desviou do acordo”.
O ministro acrescentou que foi a primeira vez que o Orçamento foi construído em conjunto entre o governo e o Congresso, ressaltou o ministro. Nas negociações, explicou, sua função é dizer o que cabe ou não no Orçamento. Mas, admitiu, houve excessos de parte a parte.
“Até R$ 16 bilhões, acompanhamos os acordos”, disse. “Depois, teve acordo que Economia não acompanhou.” Ele acrescentou que “todos estão juntos no erro” e que as negociações chegaram ao dobro do combinado. “Acordos políticos têm de caber no Orçamento”, disse.
De acordo com cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), o Orçamento de 2021 extrapola o teto de gastos em cerca de R$ 31 bilhões.
“Todo mundo quer recursos, é natural”, disse Guedes. Agora, porém, é preciso encontrar uma solução, pontuou.
“Todo mundo está de acordo quanto ao que tem de ser feito”, disse. Tanto o presidente da Câmara, quanto o presidente Jair Bolsonaro, ele próprio e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) dizem a mesma coisa: o combinado tem de ser cumprido, afirmou. “O problema é como fazer.”
Para o ministro, o “barulho” é a busca do responsável pelo Orçamento desequilibrado. Ele comparou a situação a uma astronave na qual o macaco pode ter apertado o botão errado, ou se foi o astronauta mesmo, que apertou o botão sem saber o que estava acontecendo.
“Quem errou menos, que foi o Lira, está aborrecido com isso”, disse, referindo-se ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ele repetiu que todos entendem que acordos têm de ser cumpridos e não há dúvida quanto a isso. O problema é como fazer.
O ministro voltou a atacar a possibilidade de decretar uma nova calamidade. Como as contrapartidas em termos de contenção de despesas já estão em vigor (o congelamento de salários do funcionalismo este ano), a calamidade seria apenas uma liberação de gastos.
“O que derruba o Brasil é cheque em branco”, disse. Já gastar mais 1% do Produto Interno Bruto (PIB) para financiar programas como o BEm e o Pronampe não derruba o Brasil, comparou. “Estamos na cauda de uma pandemia.”