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Em novo livro, Monica de Bolle critica economistas e diz que pandemia exige romper dogmas

Para professora, crise é oportunidade para economia se reaproximar das pessoas

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Ruptura

  • Preço R$ 24,90 na versão e-book; R$ 49,90 na edição impressa (320 págs.)
  • Autor Monica Baumgarten de Bolle
  • Editora Intrínseca

Quatro anos após publicar “Como matar a borboleta-azul: uma crônica da era Dilma”, a economista Monica de Bolle volta às livrarias com o lançamento de “Ruptura”.

No livro, a professora da Universidade Johns Hopkins critica o pensamento econômico preso a dogmas e defende que o mundo pós-pandemia não será mais o mesmo, por isso a política econômica também terá que mudar.

Para de Bolle, nesse novo mundo, as preocupações com a responsabilidade fiscal perdem espaço, o papel do Estado deverá ser repensado, a renda básica deve se tornar uma política permanente e o teto de gastos terá necessariamente que ser revisto.

Monica De Bolle, professora da Universidade Johns Hopkins, avalia em novo livro "Ruptura" que pandemia impõe nova realidade e exige romper dogmas na economia - Divulgação

Primeiro do que deverá ser uma série de três livros chamada “A Pilha de Areia” –referência a um estudo da física sobre o ponto crítico que leva à ocorrência de uma avalanche–, “Ruptura” reúne 20 reflexões, desenvolvidas pela economista em suas lives diárias no YouTube e em colunas no jornal O Estado de S. Paulo e na revista Época.

Segundo de Bolle, em entrevista à Folha, a ruptura que dá título ao livro tem três sentidos. O primeiro é o da passagem de uma realidade para outra, mudança imposta pelo coronavírus.

“Não vejo a pandemia como algo passageiro, que uma vez que tenha acabado volta tudo ao normal como antes. Essa é uma ideia equivocada sobre o tamanho do que estamos enfrentando hoje”, afirma.

“O que teremos com a pandemia é uma transformação em diversas áreas, desde relações de trabalho, passando por qual vai ser o novo papel do Estado, como a saúde vai passar a fazer parte integral de qualquer desenho de política econômica e como os programas de proteção social vão virar um padrão, parte do mainstream econômico e não uma coisa à margem.”

Uma segunda ruptura, conforme a economista, diz respeito ao pensamento econômico, que já vinha mudando desde que a crise de 2008 colocou em xeque diversos dogmas.

“A economia, durante muito tempo, viveu uma fase extremamente tecnocrata, voltada para análises de custo benefício, quantificações e empiricismos diversos, sem juízos de valor. Uma tentativa de tratar a economia como algo absolutamente positivista”, diz a economista.

“Isso, no âmbito de uma crise humanitária, coloca a economia em xeque, porque respostas econômicas que são puramente avaliadas sob um ponto de vista de custo benefício não satisfazem a população. Quando se fala de uma determinada política econômica, o que as pessoas querem saber é se aquilo é justo ou não, se é certo ou errado.”

Por fim, de Bolle diz que a ruptura diz respeito também a ela mesma.

“Há coisas que me incomodavam na economia, tal qual ela vinha se colocando ao longo do tempo, que não me servem mais. Estou me despindo de coisas que viraram pesos nos ombros e que não servem para nada.”

No livro, a economista afirma que a pandemia não é momento de se ter muito cuidados fiscais. E que a emissão de dívida para financiar os gastos necessários em resposta à crise não deve ter o mesmo efeito de abalar a confiança no país que no passado, porque todos os países sairão da crise extremamente endividados e com déficits elevados.

Para de Bolle, muitas das políticas econômicas que foram adotadas de maneira equivocada no governo de Dilma Rousseff (PT) –tema de seu livro anterior, lançado em 2016– são adequadas para o momento atual e não devem ser tratadas como tabu, já que as circunstâncias mudaram.

“Tudo que critiquei da Dilma, na época em que eu critiquei, se eu fosse reescrever o livro hoje, o faria exatamente da mesma forma”, diz a economista. “Hoje, no entanto, políticas de estímulo ao consumo, de estímulo ao crédito, de uso dos bancos públicos no apoio a empresas pequenas e médias e políticas que tentem de alguma forma dar suporte à economia por meio de uma intervenção maior do Estado são adequadas para esta crise.”

A economista faz uma defesa enfática da perenização da renda básica, a partir da experiência bem sucedida do auxílio emergencial na pandemia. Mas não chega a esboçar no livro um modelo para viabilizar a proposta.

Questionada sobre essa lacuna, de Bolle defende um formato de renda básica que funcione como um seguro, atendendo à parcela da população que é vulnerável por entrar e sair do mercado de trabalho, mas que não é atendida pelos programas de redução da pobreza.

“Precisamos de uma renda básica que funcione como uma espécie de seguro, em que ela pague um benefício às pessoas quando a economia está mal, agindo contra ciclicamente. Quando a economia vai bem, se reduz o benefício. Essa é uma maneira melhor de acionar um programa de renda básica que caiba dentro das restrições orçamentárias do governo”, diz a economista, que é membro do conselho consultivo da Frente Parlamentar da Renda Básica.

Também parte do conselho de assessoramento técnico da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, de Bolle avalia que a flexibilização do teto de gastos será inevitável.

“O teto como está montado hoje não se sustenta e alguma forma vai ser inventada para lidar com essa situação. Seria muito melhor que já estivéssemos discutindo há alguns meses o que será feito para modificar o teto, de tal forma que ele continue a ter a finalidade de servir como uma regra fiscal, mas uma regra fiscal realista, não uma regra fictícia que é descumprida a todo momento.”

Com mais de 150 mil seguidores no Twitter e quase 67 mil inscritos em seu canal no YouTube, a economista consolida em “Ruptura” seu esforço de pensar junto ao público os efeitos da pandemia sobre a economia, explicando conceitos econômicos para não especialistas.

“A economia como discutida nos jornais é muito hermética, tem muito jargão, a discussão se perde para o público em geral. E a economia é importante demais para ficar delimitada a um público restrito, então cheguei à conclusão de que é preciso preencher essa lacuna.”

A série “A Pilha de Areia” deverá ser composta a princípio de três livros, mas o número ainda está em aberto, a depender da duração da pandemia. O segundo livro, com previsão de lançamento para fevereiro de 2021, deve se chamar “Limiar” e tratar da fronteira entre economia e ciências biomédicas.

*

Lançamento será em live nesta sexta

A live de lançamento do livro "Ruptura" acontece nesta sexta-feira (25), às 17h, no canal da Intrínseca no YouTube (https://www.youtube.com/user/intrinsecaeditora). No evento, Monica de Bolle conversa com o médico e escritor Drauzio Varella.

Erramos: o texto foi alterado

O termo "isentões", usado para qualificar os economistas criticados por Monica De Bolle  em seu livro, não foi utilizado pela autora, como sugeriu o título anterior desta reportagem.

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