Brasil
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo


A intenção do governo de usar recursos que estão parados em fundos federais para financiar ações de combate à pandemia é classificada por analistas como uma medida positiva no curto prazo, mas insuficiente para resolver o impasse fiscal. Economistas avaliam que a ação é paliativa e servirá apenas para apagar incêndios.

A aprovação da proposta é vista pelo governo como uma “alternativa importante” para reforçar o colchão de liquidez da União e ajudar o Tesouro a lidar com montante elevado de vencimentos da dívida pública em 2021. A ideia é acessar quase R$ 180 bilhões em recursos depositados em 29 fundos federais.

Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, defende que o governo federal deveria em paralelo encaminhar agenda estrutural para reequilíbrio fiscal, algo que, diz, está sendo evitado.

“Do ponto de vista conceitual, é uma ação positiva, já que são recursos que estão represados e carimbados para ações que não necessariamente são prioritárias neste momento”, diz ela. É uma medida que de forma pontual pode minimizar a explosão do endividamento e ter efeitos na capacidade de rolagem do Tesouro Nacional em relação aos grandes vencimentos no primeiro trimestre de 2021, avalia.

“A crítica é que mais uma vez o governo está focado em ações de curto prazo e ações paliativas e está evitando uma agenda estrutural de reequilíbrio fiscal.”

A busca pelos recursos dos fundos, diz ela, é algo positivo e que se justifica no momento excepcional de hoje, mas se em paralelo não for colocada uma agenda de reforma estrutural, se estanca momentaneamente o problema sem encaminhar medidas que de fato vão controlar o gasto público.

Cria-se, com medidas como a do uso de superávits de fundos, percepção de alívio momentâneo, que resolve o problema que bate à porta no início de 2021.

“Mesmo se não repetirmos no próximo ano os gastos excepcionais deste ano, a trajetória crescente de gastos, com o teto constantemente ameaçado, está dada”, diz. Para mudar o curso, é preciso que seja formulada uma agenda de longo prazo, com reformas, redução de gastos com a máquina pública e melhor alocação de recursos.

Felipe Salto, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), diz que a desvinculação de parte de superávits financeiros carimbados de fundos pode ajudar na gestão da dívida, mas ela é paliativa, somente apaga o incêndio ao ajudar o Tesouro Nacional a substituir um pedaço da necessidade de financiamento que teria que ser coberta com a emissão de títulos novos.

“É uma medida que pode ser importante porque há pressão nos títulos curtos, inclusive LFTs [Letras Financeiras do Tesouro] e ajudaria o Tesouro a passar pela tempestade, mas não resolve o problema fiscal. É preciso dissipar essa nuvem que está turvando o cenário de todos. Ninguém sabe o que vai acontecer no ano que vem, menos ainda no médio prazo”, diz ele.

“Falta ainda um orçamento para o ano que vem, temos o pré-anúncio de um programa social, que parece que vai custar caro, mas do qual não se sabe o público alvo ou as condições de elegibilidade e para o qual também não há fonte de financiamento”, enumera o economista. Além de tudo isso, diz, há a indefinição em relação ao teto de gastos, que atua como âncora fiscal.

“Se outra solução temporária será adotada para contornar o teto ou se haverá acionamento dos gatilhos, isso precisa ser esclarecido. Estamos a dois meses de terminar o ano e esse nó precisa ser desatado.”

Salto lembra que de acordo com a tabela de disponibilidade de caixa do relatório resumido de execuções orçamentárias, há R$ 767 bilhões em recursos da dívida, o que inclui o colchão de liquidez e os lucros do Banco Central.

“Parece bastante, mas até abril do ano que vem há mais de R$ 640 bilhões em vencimentos de títulos, fora o déficit nominal.” Até agosto, diz esse rombo foi de cerca de R$ 780 bilhões e até o fim do ano haverá outros R$ 410 bilhões em déficit nominal adicionais.

“Os recursos livres, que estavam em R$ 128 bilhões no início do ano estão agora em R$ 6 bilhões. O Tesouro parece ter usado tudo o que tinha em recursos livres e agora está em busca de alternativas, dado que o prêmio exigido nas LFTs continua alto.

Dívida curta

Para Fabio Klein, economista da Tendências, a discussão que chegou tarde, já que o encurtamento da dívida é algo apontado desde junho.

Agora, avalia, a discussão ganhou mais força com a preocupação em relação ao risco de liquidez. A medida de desvincular fundos está dentro desse contexto, de encontrar recursos para evitar isso, e converge com medidas anteriores como a devolução de valores do BNDES ao Tesouro e os repasses do Banco Central, diz.

Ultrapassado o ponto mais agudo da pandemia, há um custo fiscal e financeiro resultante da crise sanitária que gera déficit e emissão de novas dívidas.

“O Brasil, entre os emergentes, foi um dos que mais gastou com a covid-19 e partiu com uma dívida muito maior do pré-pandemia. A consequência vem de forma clara e a ideia das medidas é evitar um mal maior ou ter que pagar um prêmio muito elevado depois”, explica.

Dentro desse quadro de urgência, tentar tirar o carimbo dos superávits de fundos faz sentido. Isso financiaria as despesas da pandemia em 2020 e reduziria a necessidade de rolagem de dívida.

De acordo com dados do Tesouro, diz ele, foram executados R$ 587,5 bilhões em meio à calamidade e pagos R$ 457 bilhões. Outros empenhos, porém, ainda podem entrar este ano e ainda é preciso definir os gastos para 2021.

Para Klein, há ainda a preocupação de como o PLP 137/2020, que propõe a desvinculação dos fundos, irá tramitar no Congresso e se não haverá discussão sobre os fundos que terão os recursos utilizados. De forma mais ampla, a ideia de tirar o carimbo de superávits de fundos, lembra ele, não é nova, já que constava da PEC dos Fundos proposta no ano passado pelo governo federal.

O deputado Mauro Benevides (PDT-CE), autor do projeto, diz que a proposta já tem apoio das lideranças e sua expectativa é de que seja colocada em votação na próxima quarta ou na semana seguinte. Ou seja, antes do recesso para as eleições municipais. Ele diz que o projeto só contempla fundos regulados por lei infraconstitucional e se restringiu àqueles que não executam recursos ou que têm superávits acumulados.

O projeto, diz ele, não elimina fundos e apesar de ter efeito indireto no tamanho do déficit e consequentemente na rolagem da dívida, seu objetivo é liberar recursos para financiar despesas com a pandemia. Isso, diz o deputado, traz apoio dos parlamentares ao PLP.

 — Foto: Marcos Santos/USP Imagens
— Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

A incorporação da Vitru Limited pela Vitru Brasil foi aprovada em assembleia geral extraordinária (AGE), realizada nesta sexta-feira (19), que também aprovou o grupamento das ações ordinárias

Vitru Limited aprova incorporação pela controlada no Brasil e migra da Nasdaq para B3

Em encontro nesta sexta (19), os ministros da Defesa dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte "concordaram em fornecer mais apoio militar, incluindo defesa antiaérea" à Ucrânia

Otan anuncia acordo para enviar ajuda à defesa antiaérea da Ucrânia

Em seu despacho, o ministro do STF afimou que vai submeter a decisão a referendo no plenário na próxima sessão virtual da Corte; a dívida do Estado com a União chega a R$ 165 bilhões

STF: Nunes Marques prorroga prazo para Minas Gerais aderir ao regime de recuperação

Foi minerado o bloco de nº 840 mil, e especialistas esperam que o BTC suba, mas não pelo corte da oferta

Bitcoin completa o 4º 'halving', reduz emissão e abre novo momento para ativos digitais

A medida deve resultar em um ingresso de cerca de R$ 6 bilhões aos cofres da União, acionista controlador da empresa estatal

Lula concorda com distribuição de 50% dos dividendos extraordinários da Petrobras

Prazo para solicitação do documento encerra mês que vem

Como tirar o título de eleitor online?

Ela atua na instituição desde o ano de 2007

Luciana Jordão da Motta Armiliato de Carvalho é nomeada Defensora Pública-Geral de São Paulo

Carta de renúncia José Luciano Duarte Penido caiu como uma bomba quando da divulgação, em 11 de março

Conselheiro da Vale que denunciou manipulação na troca de CEO recua após CVM pedir esclarecimentos

Em Washington, autoridade monetária ainda reafirmou que a perseverança nas metas econômicas são importantes

Campos diz que IPCA de março foi boa surpresa, mas o BC não decide sobre juros apenas com um número

Diretora de relações institucionais da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária lembra do calendário legislativo apertado, com eleições, considerando o ideal de se votar a regulamentação em 2024

Reforma tributária entra em nova etapa semana que vem, diz diretora da Secretaria Extraordinária