Por Paula Salati, Raphael Martins, G1


Banco Central reduz Selic de 3% para 2,25% ao ano

Banco Central reduz Selic de 3% para 2,25% ao ano

O corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros nesta quarta-feira (17) veio dentro do esperado pelo mercado financeiro e a avaliação de economistas ouvidos pelo G1 é de que o comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deixou a porta aberta para um novo corte nos juros à frente, ainda que tenha considerado a última redução "compatível" com os impactos econômicos da pandemia de covid-19.

"Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual", disse o BC.

Para o economista da Necton Investimentos, André Perfeito, este comentário indica que a autoridade monetária deixou "a porta aberta para um corte adicional em menor magnitude em sua próxima reunião, ao vincular o corte às condições gerais da economia" que, para ele, "muito provavelmente, estarão ainda muito ruins". Com isso, o economista aposta em uma redução adicional de 0,25 nos juros em agosto.

Já o superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil, Mauricio Oreng, avalia que o comunicado do Copom sinalizou cautela em relação aos próximos passos. Para ele, mesmo com o BC indicando que está aberto a um novo corte, a autoridade monetária se mostra menos propensa a novos ajustes, quando afirma, no atual comunicado, que os cortes na Selic já implementados "parecem" compatíveis com os impactos da pandemia da Covid-19.

Mudança de sinal

O economista Alexandre Schwartsman, por sua vez, chama a atenção para a mudança de sinalização do último comunicado para este. Em maio, o Copom havia reduzido a Selic de 3,75% para 3% ao ano, dizendo que "um último ajuste, não maior do que o atual" deveria completar o grau de estímulo necessário para a reação às consequências econômicas da pandemia do novo coronavírus.

Já nesta quarta-feira, o BC abriu uma possibilidade para uma nova redução.

Para Schwartsman, outro sinal truncado foi o fato de o Copom indicar que pode desrespeitar a meta de inflação também em 2021.

Em 2020, a falha é esperada. O piso da meta de inflação é de 2,5%, enquanto o consenso de mercado prevê que o IPCA ficará em 1,60% neste ano. Mas, dentro da comunicação do Copom desta quarta-feira, a meta estabelecida para inflação em 2021 é de 3,2% contra um piso da meta de 3,75%.

"Faz sentido desistir de perseguir a meta em um momento como o de pandemia, mas ainda temos 18 meses para o fim do ano que vem. Não dá para jogar a toalha", diz Schwartsman.

Além de um possível descumprimento da meta, o economista acredita que o vaivém do Banco Central a respeito dos cortes tira a credibilidade da comunicação das reuniões. Schwartsman acredita, portanto, que o corte deveria ser mais profundo.

"Em março aconteceu a mesma coisa e o corte não estava nem perto do adequado. Quando chegar a próxima reunião, precisará de mais um corte", diz. "É muito ruim quando se começa a desacreditar no Banco Central. Parece uma tolice, a promessa."

O economista Juan Jensen, da 4E Consultoria, também ressalta a mudança na sinalização do BC, mas avalia que isso reflete o próprio momento de incerteza da economia em função da pandemia.

“No fundo, diante dessa incerteza, fica difícil cravar qualquer cenário. O BC não quis ficar amarrado como no comunicado anterior”, diz.

Na leitura de Jensen, o BC também indicou que pode fazer mais um corte de 0,25 ponto na Selic na próxima reunião.

BC mais cauteloso

Entre os que consideram positiva a cautela do BC está o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente, Felipe Salto. Para ele, a condução de crise com juros baixos é inédita no país e requer cuidado com o cenário de recuperação no exterior.

"Hoje, há uma retração da trajetória do dólar, mas, se o Fed dá um espirro, tudo muda", diz. "Como não sabemos da recuperação no ano que vem, se houver pressão no balanço de pagamentos, por exemplo, isso pode gerar pressão inflacionária."

Salto diz ainda que o BC demonstrou preocupação também com o equilíbrio fiscal, pois uma nova redução pode beneficiar a trajetória de dívida pública.

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