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Com 'descasamento' de índices inflacionários, governo terá de cortar R$ 7,4 bi

Enquanto o INPC, que corrige despesas como benefícios da Previdência, está em 5,2%, teto será reajustado em 2,13%; governo ainda não conseguiu avançar nas medidas de corte de gastos no Congresso

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA - A aceleração da inflação medida pelo INPC vai aumentar a pressão sobre os gastos do governo no ano que vem e exigir mais medidas de corte do Orçamento. O índice está atrelado diretamente às despesas com o pagamento de benefícios previdenciários, trabalhistas e assistenciais do governo e já acumula uma alta de 3,93% no ano e de 5,20% em doze meses.

Faltando apenas dezembro para encerrar o ano, uma inflação de 5% para o INPC de 2020 vai aumentar em R$ 38,4 bilhões as despesas do Orçamento em 2021, calcula Fernando Montero, economista-chefe da Tullet Prebon Brasil. A pressão ocorre num momento em que o governo não conseguiu avançar no Congresso com medidas de corte de despesas para abrir espaço no Orçamento do ano que vem. 

Previsão no Orçamento ficou aquém da inflação do INPC, afirma Salto. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Montero chama a atenção que o limite do teto de gastos (regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação) foi corrigido por um IPCA de 2,13%, com impacto de R$ 31 bilhões. Uma diferença, portanto, que pode chegar a R$ 7,4 bilhões. “A correção nas despesas indexadas ao INPC superará, em termos relativos e também absolutos, a correção no teto dos gastos”, ressalta Montero. Na sua avaliação, o descasamento de índices e períodos de correção “bagunçou” 2021, cujo Orçamento só será votado no ano que vem.

Desde a implantação do limite do teto de gasto, diz ele, será a primeira vez que a correção nominal do teto será mais do que “consumida” (em R$ 7,4 bilhões, no caso) pelo ajuste monetário dos benefícios previdenciários, Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial e seguro-desemprego, entre outros.

Em outubro, o Estadão já havia mostrado que a aceleração da inflação na reta final do ano iria criar uma espécie de armadilha para a equipe econômica cumprir o teto de gastos em 2021. Enquanto a expansão do limite das despesas já estava “travada” em 2,13%, a alta recente nos preços pelo INPC servirá de referência para corrigir o salário mínimo no início do ano que vem e, consequentemente, de mais da metade dos gastos da União – concentrados em benefícios previdenciários e assistenciais.

Pelos cálculos do Ministério da Economia, a cada 0,1 ponto porcentual a mais de variação no INPC , haverá um aumento de R$ 768,3 milhões nas despesas em 2021. 

O economista Felipe Salto, da Instituição Fiscal Independente, lembra que a projeção do INPC usada no projeto de Orçamento foi de 2,09%, que já está muito distante da realidade atual. Salto tem cálculos ainda mais salgados do impacto do indicador nas despesas. Segundo ele, a cada ponto porcentual a mais de inflação o gasto fica R$ 8,4 bilhões maior. Na sua avaliação, se a inflação em 12 meses ficar em 5,2%, o custo adicional poderá ser de R$ 26 bilhões.

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