Economia

''País passou de todos os limites'', afirma Armínio Fraga

Ex-presidente do Banco Central, em evento da FenaSaúde, critica o aumento da desigualdade no país e defende melhora na questão da injustiça social

Rosana Hessel
postado em 24/10/2019 19:54
[FOTO1]O economista e ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, conhecido por fazer carreira no mercado financeiro, voltou a reforçar o que vem escrito em artigos recentes sobre a necessidade de políticas econômicas e de governo que reduzam a desigualdade no país e melhore a equidade.

;Tenho falado muito de políticas distributivas, porque o país passou de todos os limites. Há uma situação de injustiça e de defeitos do sistema tributário;, destacou o economista durante o 5; Fórum da Federação Nacional de Saúde Complementar (FenaSaúde) nesta quinta-feira (24/10), em Brasília. Ele contou que, ao contrário do economista francês Thomas Piketty, ele não apoia a criação de um imposto para melhorar a redistribuição de renda, mas de ;políticas que melhorem a questão da injustiça social;, de certa forma, na contramão da cartilha liberal e ortodoxa seguida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados preocupantes sobre o crescimento da desigualdade no país devido, principalmente, ao aumento do desemprego e da queda na renda da população.

Ao avaliar a recente aprovação da reforma da Previdência apresentada por Guedes -- com impacto fiscal em 10 anos de R$ 630 bilhões nas contas da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, após a votação do segundo turno na Casa --, Fraga elogiou as mudanças do projeto que ainda precisa ser sancionado pelo presidente da República. Contudo, diante do fato de a população brasileira estar vivendo mais, ele lembrou que ainda serão necessárias outras reformas previdenciárias mais adiante. ;Essa reforma foi ótima, mas vamos precisar mais;, alertou o economista fundador do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (IEPS).

De acordo com o ex-presidente do BC, os dados preliminares de um levantamento feito pelo IEPS, os gastos de saúde devem crescer, a médio e longo prazo, mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), uma vez que a população está vivendo mais e, portanto, vai aumentar as despesas com saúde. ;Eu me assustei com essa conclusão, mas o fato é que os gastos com saúde tendem a crescer;, afirmou. Para ele, a demanda por novas tecnologias tendem a aumentar esses custos também.

Conforme dados da FenaSaúde, o setor de saúde suplementar perdeu três milhões de clientes desde 2014 até 2018, ano em que faturou R$ 192 bilhões, dado 7,9% superior ao de 2017. Enquanto isso, as despesas assistenciais das operadoras avançaram 7,4%, para R$ 160 bilhões.

Durante sua fala, Fraga defendeu a tese de que a saúde é um bem público. ;Tenho evitado falar em gasto com saúde, mas acho que é um investimento. As pessoas vão viver mais, mas vão trabalhar mais e, com isso, também vão gerar mais renda;, explicou.

Na avaliação de Fraga, o Brasil está crescendo menos do que a tendência de expansão do PIB dos países mais avançados, de 2% ao ano, mas ainda não tem a mesma qualidade de serviços dessas economias desenvolvidas. ;Estamos distantes das melhores práticas;, comparou.

O economista, inclusive, demonstrou preocupação com o fato de a economia brasileira crescer em ritmo muito lento, após a recessão dos anos de 2015 e 2017, apesar de a inflação estar baixa, contrariando a teoria de vários economistas que achavam que, com menos pressão no custo de vida, haveria mais crescimento. ; Acho que o Brasil, enquanto tiver crescendo pouco, vai sofrer. O mundo está evoluindo em ritmo mais forte do que o país. Temos que crescer mais rápido do que eles. Se continuarmos crescendo menos, vai ser pior;, lamentou.

No entender de Fraga, o setor de saúde é muito complexo e igualmente importante e, portanto, é necessário um debate amplo sobre a necessidade de mudanças de regras do setor, mas de forma transparente e clara.

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