Economia Previdência

Maia busca apoio para derrubar destaques que desidratam reforma da Previdência; veja o que ainda pode mudar

Além de regras mais brandas para policiais, há propostas para anular mudanças no cálculo da pensão e reduzir o pedágio na transição
Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, ainda vazio nesta quinta-feira. Deputados votarão destaques ao texto-base da reforma da Previdência Foto: Jorge William / Agência O Globo
Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, ainda vazio nesta quinta-feira. Deputados votarão destaques ao texto-base da reforma da Previdência Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA — O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, esteve reunido pela manhã com líderes partidários para, de acordo com ele, "conhecer melhor o mérito de cada destaque" que será votado nesta quinta-feira na Casa. O texto-base da reforma da Previdência foi aprovado em primeiro turno pelo plenário na quarta-feira . Otimista, Maia quer concluir a votação em dois turnos na Casa até sexta-feira .

A votação dos destaques (propostas apresentadas por partidos da base e da oposição para modificar diversos pontos da reforma) seria iniciada às 9h desta quinta-feira, mas a sessão foi adiada por falta de quórum. O presidente da Câmara articula com os líderes a derrubada dos destaques que podem desidratar demais a reforma.

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Os mais polêmicos sugerem retirar do texto já aprovado a nova regra do cálculo da pensão e do abono salarial (PIS/Pasep), além de flexibilizar a norma de transição, reduzindo idade mínima e instituindo um pedágio menor, de 30%. Ao todo, estão previstas entre 14 e 19 votações, considerando as emendas aglutinativas.

O governo quer aprovar somente duas emendas acordadas com os partidos do centrão: a nova regra de transição para os policiais federais e o ajuste na aposentadoria das mulheres, que poderão ganhar um benefício maior a partir de 15 anos de contribuição

Caso consiga derrotar os destaques da oposição e aprovar somente essas duas emendas, a economia com a reforma ficaria em R$ 957,6 bilhões. O valor representa uma redução de quase R$ 300 bilhões em relação à projeção da equipe econômica, no texto original de R$ 1,237 trilhão. No entanto, se os destaques da oposição forem aprovados, a reforma será desidratada e a economia projetada poderá cair ainda mais.

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O Instituto Fiscal Independente (IFI), que trabalha com uma metodologia diferente da do governo, prevê que e economia com a reforma será de R$ 714 bilhões, considerando apenas o texto-base aprovado nesta quarta.

Os destaques mais preocupantes tratam da pensão, apresentado pelo PT, e da regra de transição, pelo Solidariedade. Na noite de quarta-feira, a Câmara derrubou destaque do PDT para retirar os professores da reforma.

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Diante de risco de derrota em outros destaques, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), suspendeu a sessão e decidiu reabrir os trabalhos nesta quinta-feira, depois de reorganizar a base.

Veja abaixo os principais destaques

Idade mínima para professores (PDT)

A proposta reduz a idade mínima para os professores que já estão no mercado de trabalho, ou seja, aqueles que terão regra de transição. Essa idade cairia de 58 anos para 55 anos, no caso dos homens, e de 55 anos para 52 anos, no caso das mulheres, considerando um pedágio de 100% sobre o tempo que falta para se aposentar. Para os demais trabalhadores, a idade mínima nessa regra de transição, com pedágio de 100%, é de 60 anos (homens) e 57 anos (mulheres).

Cálculo da pensão (PT)

O destaque do PT pretende manter a integralidade do valor da pensão. O governo propôs reduzir o valor do benefício para 50%, mais 10% por dependente (incluindo o viúvo ou viúva), no limite de 100%, alegando que o Brasil é um dos únicos países do mundo onde a pensão é integral.

Regra de transição (Solidariedade)

O Solidariedade propõe substituir todas as regras de transição da proposta por uma única, considerando idade mínima de 60 anos (homem) e 55 anos (mulher), com pedágio de 30%. O temor é que, se esse destaque passar, a economia com a reforma cairá drasticamente.

Segundo técnicos da equipe econômica, só as regras de transição têm potencial para gerar uma economia na casa de R$ 700 bilhões.

Regra de cálculo (PT)

Os deputados querem retirar do texto as mudanças nas regras de cálculo dos benefícios dos regimes de Previdência dos servidores públicos e dos trabalhadores da iniciativa privada. A nova regra prevê que o cálculo seja feito pela média dos salários correspondentes a 100% do período de contribuição. Isso reduz o valor da aposentadoria. Hoje, o cálculo é feito com base na média dos 80% maiores salários.

Cálculo para chegar ao teto (PT)

O destaque prevê retirar do texto a regra de cálculo do valor do benefício para conseguir receber a aposentadoria no seu valor integral. Por essa regra, quem se aposentar terá direito a 60% da média das contribuições, com acréscimo de 2% a cada ano que exceder o período de 20 anos de contribuição, para aposentados do INSS e servidores.

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Pedágio (PDT)

O partido quer retirar, da regra de transição, a exigência de pedágio para cumprir o tempo mínimo de contribuição para a aposentadoria. Outro destaque prevê a redução do pedágio de 100% para 50% para servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada.

Policiais Federais

Foi acertado com líderes do centrão que o partido Podemos vai retirar o destaque que pretendia deixar os policiais federais de fora da reforma. No lugar, o partido vai apresentar uma emenda aglutinativa com novo texto com regras mais brandas para a categoria: idade mínima de aposentadoria de 53 anos (homem) e 52 anos (mulher) e pedágio de 100% sobre o tempo que falta para a aposentadoria.

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Assim, os policiais poderiam obter as chamadas integralidade (se aposentar com o último salário da ativa) e paridade (que é ter os mesmos reajustes dos servidores da ativa). O tempo na atividade policial para quem já ingressou na carreira seria de 15 anos para mulher e 20 anos para os homens. Para os novos, subiria para 25 anos.

O texto que foi aprovado no plenário prevê que os policiais têm de trabalhar até os 55 anos (homens e mulheres) para ter direito à aposentadoria, com 30 anos de contribuição, sendo 25 no exercício efetivo da carreira.

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BPC (Cidadania)

O partido quer retirar do texto a previsão de que têm direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) idosos e pessoas com deficiência em famílias com renda familiar per capita inferior a 1/4 do salário mínimo. Esse requisito já existe em lei e o relator buscou constitucionalizar o tema para evitar a judicialização.

Abono (Psol)

O Psol que manter como é hoje as regras de concessão do abono salarial do PIS/Pasep, que prevê o pagamento de um salário mínimo para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. O texto da reforma estabelece que terá direito ao abono quem receber até  R$ 1.364,43.