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Coluna no GLOBO

Melhora incompleta: economia ainda sente os efeitos da incerteza política

O economista Armínio Fraga define como “recuperação incompleta” o que está acontecendo no Brasil atualmente. “É um movimento cíclico em que as coisas se acalmaram, a queda de juros foi possível pelos acertos do Banco Central e pela recessão, mas o investimento entrou em colapso, o que tem sido investido não é suficiente nem para cobrir a depreciação.”

Ontem a Moody’s baixou a perspectiva do sistema bancário brasileiro de estável para negativa, por causa dos “riscos de que as incertezas políticas possam causar deterioração adicional dos fundamentos financeiros dos bancos”.

Pode-se dizer que, como sempre, as agências agem fora da hora. Houve momentos de maiores problemas bancários nesta crise, e a própria Moody’s diz que os bancos estão saindo da recessão com o risco “administrável”. Mesmo assim, colocou em perspectiva negativa. Em parte, pela interminável crise política que a cada dia tem um novo desdobramento, que só vai acabar quando houver um novo governante eleito.

Isso joga para 2019. E nada está certo no meio do caminho. O que se tem esta semana é a apresentação do relatório da nova denúncia contra o presidente Temer. E o relator foi escolhido sob medida para apresentar um relatório favorável ao governo. Portanto, não há incerteza neste caso. Mas o que provoca danos na economia é a maneira como o governo Temer lida com essa relação entre economia e política.

A ordem dada à equipe econômica é deixar tudo para depois da votação da denúncia. E, por tudo, entenda-se: enviar a versão definitiva do Orçamento, mandar o projeto que congela salários dos funcionários em 2018, preparar as mudanças anunciadas na estrutura dos salários do funcionalismo. Isso fica à espera da tramitação da denúncia, processo que deverá consumir o mês de outubro. Depois, o país já estará no penúltimo mês do ano.

Ainda que a reforma da previdência seja votada, será uma mudança incompleta:

— O tema dos gastos excessivos é tão antigo e a situação chegou a tal ponto que terá que ser feita uma grande reforma na estrutura do gasto público. Será preciso reestatizar o Estado e privatizar as empresas.

O FMI passou por aqui e deu conselhos. No relatório de 60 páginas, há pontos óbvios, como flexibilizar o gasto público. Ele é rígido. Tem sido consumido por despesas fixas, a tal ponto que, mesmo que o investimento e o gasto de custeio fossem zerados, as despesas obrigatórias iriam engolir a Receita Corrente Líquida. E muitas vezes o investimento leva a quedas do gasto futuro. É irracional não investir. Nas empresas, essa decisão depende da percepção do futuro:

— O investimento primário só vai andar quando houver definição sobre o próximo governante. Por isso as empresas ficarão em espera — diz Armínio.

A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado e dirigido pelo economista Felipe Salto, piorou suas projeções para a dívida pública. No cenário básico, o mais provável, a dívida bruta continuará subindo até 2025, quando chegará a 93,5% do PIB, para só então começar a cair lentamente. Em 2030, a taxa ainda seria de 86,6%. Esse número é cinco pontos maior do que a estimativa feita em junho pela Instituição.

No cenário mais otimista, a dívida atingiria 82,1% em 2022 e começaria a cair rapidamente, chegando a 53% do PIB em 2030. No pessimista, a hipótese é de insolvência do setor público (veja abaixo).

O país está vivendo uma melhora incompleta na economia, e com a política ainda mergulhada na incerteza. Este é o tempo presente.

dívida bruta

(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)

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