ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 22º
Construção dá sinais de queda, mesmo com aumento do financiamento imobiliário

Economia

Construção dá sinais de queda, mesmo com aumento do financiamento imobiliário

Mesmo com crescimento de 19,4% no financiamento imobiliário, a construção civil dá sinais de queda

Ignácio Aglietti | 20/05/2020 14:42
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Não deve ter nenhum setor da indústria ou comércio que não tenha já sido atingida pelos efeitos que essa pandemia vem arrastando. Lamentavelmente a paralisação da economia e o isolamento social veio pôr um freio no crescimento que o Brasil vinha experimentando nos últimos anos. De fato o Relatório de Acompanhamento Fiscal n° 39 do mês de abril, elaborado pelo Instituto Fiscal Independente do Senado (IFI) projeta uma queda do PIB de -2,2% ou até de -5,2% num cenário pessimista. Ainda mais, em um cenário extremo, imaginando 22 semanas (5 meses e meio) de paralisação e redução de um 85% na atividade econômica a diminuição do Produto Interno Bruto poderia superar os 7 pontos porcentuais.

De acordo com o informe, também o índice de confiança empresarial (ICE) recuou 6,5 pontos em março, senda mais drástica a perda de confiança nos setores de comércio e serviços. E a construção? a piora da confiança foi menor em comparação com outras áreas caindo 2 pontos (bastante menos que o setor do o comércio, por exemplo, que caiu 11%).  O cenário ainda não fica claro: desde o começo da pandemia, as previsões com respeito à construção civil não são homogêneas e os dados podem confundir.

Crescimento do financiamento imobiliário SBPE

Um dado a ser levado em conta é que em comparação com o mesmo período do ano passado, no primeiro trimestre deste 2020 o financiamento imobiliário feito com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) cresceu um 29,8% atingindo R$ 20,25 bilhões. Só em março, o financiamento por este meio chegou a ser de R$ 6,73 bilhões crescendo 5,6% em relação ao mês anterior e 19,4% com respeito a março de 2019. A informação foi brindada no Boletim Informativo de Crédito Imobiliário e Poupança da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

O SBPE capta recursos a través de uma das ferramentas de investimento mais tradicionais que existe no Brasil, isto é a caderneta de poupança. Assim, o dinheiro aplicado pelo poupador é recebido pelos bancos através de um processo monitorado e regulado pelo Conselho Monetário Nacional e o Banco Central, a fim de poder oferecer linhas de créditos para os seus clientes. Para as famílias que procuram empréstimos para construção essa costuma ser uma das mais viáveis e utilizadas: só entre janeiro e março de 2020 79,07 mil construções ou aquisições de unidades habitacionais foram financiadas por este sistema, 24,3% a mais do que no mesmo período de 2019.

Mesmo que a informação até aqui possa parecer otimista, é importante lembrar que, sendo que os dados foram registrados até março, o Boletim pode ainda não estar  refletindo o impacto da crise da atual pandemia sobre o crédito habitacional do SBPE. Como o dinheiro aplicado pelas pessoas se transforma indiretamente em crédito para o setor imobiliário, vai ser preciso observar daqui pra frente o comportamento da captação líquida das cadernetas, já que a poupança dos brasileiros está ligada diretamente a possibilidade de financiar a compra de um imóvel.

Até março a captação líquida das cadernetas de poupança do SBPE foi positiva com um dos melhores comportamentos por mês registrados na história (R$ 8,25 bilhões). Isto reflete o esforço da maioria das famílias em acrescer as reservas que possam ser precisar para fazer frente a crise do coronavírus, principalmente com as ameaças para o emprego e fontes de renda. Mas não existem previsões de que a captação possa continuar crescendo do jeito que vem o fazendo, justamente por causa da possível diminuição dos ingressos familiares.

Mudanças nas projeções na construção civil 

A situação atual fica bastante longe das expectativas que, para este ano, eram formuladas entre finais do ano passado e começo de 2020. Nesse sentido, a maioria das estimações feitas por consultorias ou órgãos públicos imaginava um crescimento interessante na área da construção civil. De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em 2019 a economia brasileira cresceu um 1,1%, e o crescimento na construção de 1,6% - por cima do incremento geral do país- com certeza ajudou a dar impulso no crescimento de PIB nacional e industrial. Para ter uma ideia do que isso supõe, no 4° trimestre do ano passado foram lançados 44.332 imóveis residenciais novos (8,4% a mais em comparação com aquele período do 2018).

Com respeito ao presente ano, se projetava um período mais do que positivo esperando um  crescimento nos lançamentos de 20% a 30%, com um potencial para gerar 5.5 milhões de postos de trabalho- ou seja 5% de todos os empregos do país- e para construir até um milhão de novas moradias.

Essas expectativas se apoiavam, em grande parte, nas ferramentas financeiras para a aquisição dos imóveis e na disponibilidade de funding por parte dos bancos. É por isso que informações como a capacidade de captação líquida na caderneta de poupança e as variações do SBPE (um dos maiores sistemas de funding)  são tão importantes.

Só que ninguém contava com uma crise mundial da magnitude que a atual pandemia veio provocar. O aumento da confiança no mercado e do nível de renda que apoiava o crescimento esperado começam a desaparecer e o futuro da construção ainda é de incerteza. Por enquanto,  na Sondagem Indústria da Construção feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) se monstra que a atividade da construção caiu drasticamente de fevereiro para março: o índice do nível de atividade ficou em 28,8 pontos numa escala de 0 a 100 pontos (nesse sistema de medição, os valores que ficam por baixo de 50 pontos são considerados retração).

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Atualmente as projeções variam muito dependendo das consultorias ou órgãos públicos. O financiamento ainda consegue ser uma boa notícia. Dentre outras medidas adotadas, a Caixa Econômica Federal anunciou que destinará R$ 43 bilhões em novas linhas de crédito com carência de 6 meses no pagamento delas para pessoas físicas e empresas. A CBIC recebeu o anúncio com otimismo. Em palavras do presidente da Câmara, José Carlos Martins, “a construção civil pode ser o alicerce para não deixar a economia do país afundar e que, se neste momento for preciso um ‘pause’, quando colocar um ‘play’ o setor vai sair na frente”.


Nos siga no Google Notícias