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Dinheiro (Foto: Agência Brasil)

Dinheiro (Foto: Agência Brasil)

A medida do governo federal para pagar salários de micro e pequenas empresas em dificuldades por causa do isolamento social causado pelo coronavírus foi bem recebida por empresários e economistas. Na visão deles, há normas claras e um procedimento relativamente simples. Mas especialistas alertam que será preciso observar na prática se os recursos chegarão de forma rápida a quem está com o caixa vazio. Em nota conjunta, os bancos informaram que as empresas que solicitarem os recursos serão submetidas à análise de crédito de cada instituição financeira.

- Era isso que estávamos esperando do governo, medidas específicas em com as regras para a sua implementação. E ela casa com outras medidas, como o envio de recursos para os informais. Isso pode ajudar nesta fase de isolamento, que não podemos ser contra, a saúde vem sempre em primeiro lugar - afirmou Marcelo Souza e Silva, presidente da CDL de Belo Horizonte, que reúne 18 mil lojas na capital mineira.

Ele acredita, contudo, que agora é preciso olhar para os outros aspectos para salvar as empresas, como adiar impostos e facilitar a renegociação de alguns contratos, como aluguéis. Ele afirma que a medida da Caixa de reduzir suas taxas de juros também é benéfica, e criticou os outros bancos, que continuam burocráticos no auxílio à crise do coronavírus.

Felipe Salto, do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado, considera a medida correta, mas ainda tímida. Embora veja o governo no caminho mais efetivo para evitar uma contaminação mais severa da economia, ele acredita que serão necessárias mais medidas como esta, e em valores maiores.

- Falta alguma uma visão mais estratégica, sistemática. Até agora estava se olhando a árvore, é preciso ver toda a floresta -disse ele, que elogiou o fato de, enquanto o governo estava lento, o Congresso assumiu o protagonismo no debate destas medidas.

Em nota conjunta, os bancos Itaú, Santander e Bradesco informaram que a adesão ao fundo emergencial voltado para o financiamento da folha de pagamento de empresas clientes de cada banco com faturamento anual de até R$ 10 milhões tem como objetivo garantir a sobrevivência dos pequenos negócios e preservar postos de trabalho no segmento que é o maior gerador de empregos da economia. Os bancos informaram que as empresas que solicitarem os recursos serão submetidas à análise de crédito de cada instituição financeira.

Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) observa que a medida do governo segue o modelo feito pelo Federal Reserve, o banco central americano, que também deu garantia nesses empréstimos nos EUA, o que é positivo. Mas será necessário observar na prática se o dinheiro vai chegar logo a quem precisa.

- A medida é importante para que as empresas mantenham seus funcionários e deve ser aprovada pelo Cogresso. Mas é preciso esperar para ver se terá efeito na prática, já os bancos privados assumirão risco elevado, com pouca margem de ganho (a taxa é 3,75% ao ano) e prazo longo de pagamento - diz Ribeiro de Oliveira.

Ele lembra que mesmo depois que o Banco Central flexibilizou os depósitos compulsórios (dinheiro dos bancos que fica recolhido ao BC) os bancos acabaram não emprestando porque há muita incerteza sobre quando as pequenas empresas vão retomar a atividade e voltar a ter caixa. Como essas pequenas empresas não têm garantias a oferecer, as instituições financeiras preferem não emprestar a levar calote, diz Ribeiro de Oliveira.

- Os bancos continuam muito seletivos, mesmo nessa oferta de repactuação de dívidas anunciada recentemente é difícil conseguir fazer a operação - diz ele.

Para o economista especialista em bancos, João Augusto Salles, os bancos são mais preparados para fazer a análise de crédito e mitigar o risco de inadimplência Um micro empresário, por exemplo, que já estava com problemas de caixa pode não receber empréstimo novo, mas ganha fôlego para renegociar as dívidas.

- Nesse momento não é interesse da instituição que haja quebradeira nesse segmento - disse Salles.