Brasil
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Fábio Pupo, De Brasília — Valor


Manoel Pires, pesquisador do FGV/Ibre: 'Ajustes fiscais são duros, mas estão chegando a um esgotamento' — Foto: Ruy Baron/Valor
Manoel Pires, pesquisador do FGV/Ibre: 'Ajustes fiscais são duros, mas estão chegando a um esgotamento' — Foto: Ruy Baron/Valor

O Ministério da Economia prepara um projeto de lei complementar para alterar pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) voltados aos Estados. A proposta padroniza o cálculo de gastos com pessoal e ainda alonga o prazo para reenquadramento dos entes que estourarem limites legais de indicadores fiscais.

Hoje, a LRF estabelece que a despesa com pessoal dos Estados não pode exceder 60% da receita corrente líquida. No entanto, alguns entes usam metodologias diferentes para o cálculo. Deixam de considerar como despesas, por exemplo, os gastos com pensionistas, Imposto de Renda Retido na Fonte e obrigações patronais. Em grande parte dos casos, os governadores são respaldados pelos respectivos tribunais de contas.

Uma fonte do Ministério da Economia afirma que a pasta pretende dar uniformidade ao conceito, deixando claro na legislação que devem ser considerados no cálculo o imposto de renda, além de inativos e pensionistas. "A discussão está avançada. Faltam detalhes e saber como andar com o tema politicamente", disse ao Valor.

Outra alteração diz respeito à extensão do prazo para reenquadramento dos Estados que estourarem os indicadores de gasto com pessoal. Hoje, em caso de descumprimento, os entes têm que eliminar o percentual excedente em até dois quadrimestres - sendo pelo menos um terço já no primeiro. Caso contrário, não podem receber transferências voluntárias, obter garantia direta ou indireta e até mesmo contratar operações de crédito (exceto as destinadas ao refinanciamento da dívida mobiliária e as que visem à própria redução de despesas com pessoal).

O prazo de dois quadrimestres existente hoje é considerado por Estados como "impossível" de ser cumprido e, por isso, o ministério deve estendê-lo para quatro ou cinco anos. Nesse caso, a proposta da pasta é autorizar o mecanismo apenas temporariamente - e não indefinidamente.

Autor — Foto: Legenda
Autor — Foto: Legenda

Ontem, o seminário "Como resolver a crise dos Estados?", realizado pelo Valor e pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), reuniu secretários estaduais e economistas para discutir a situação dos entes. Muitos defenderam alterar a LRF principalmente para a padronização dos cálculos, algo defendido pelos técnicos da Fazenda desde pelo menos o governo de Michel Temer - sem haver alterações na lei até agora.

Os gastos com pessoal são considerados o principal problema enfrentado pelos entes e 14 deles estão acima do limite legal (segundo dados calculados pelo próprio Tesouro e divulgados ao fim de 2018). O acompanhamento em si, no entanto, é feito pelos dados apresentados pelos próprios entes (e não pelo governo federal), o que gera a possibilidade de metodologias divergentes.

Cristiane Alkmin Junqueira Schmidt, secretária da Fazenda de Goiás, disse que a contabilidade usada no Estado pelo governo anterior era uma "maquiagem". Segundo ela, o gasto com pessoal no Estado passaria de 54% da receita corrente líquida para 64% caso todas as despesas fossem consideradas. "Quando falamos sobre aprimoramentos na LRF, esse [ponto da padronização] é o primeiro. A sociedade não tem a noção exata do quão grave é essa crise."

Gustavo Barbosa, secretário da Fazenda de Minas Gerais, também defende a mudança, sobretudo para serem considerados os números de inativos. "Precisamos de uma padronização e um entendimento único de tribunais de contas. Não há uma ação, nenhuma linha, nenhuma letra [na LRF] sobre inativos e pensionistas", disse.

Parte dos representantes estaduais aproveitou para demandar mudanças ainda mais significativas na LRF. Renê Garcia, secretário da Fazenda do Paraná, defendeu retirar aplicações mínimas com saúde (12% das receitas) e educação (25%). "Se houver aumento da receita em determinados Estados, vai piorar porque haverá aumento das despesas vinculadas com educação e saúde. Então tem que haver um mecanismo, [como a] rediscussão sobre precatórios e alguma desvinculação das obrigações constitucionais", afirmou.

Manoel Pires, pesquisador associado do FGV/Ibre e ex-secretário no Ministério da Fazenda, reconheceu que as alterações sendo discutidas podem gerar desconforto. Mesmo assim, defendeu a necessidade de novas soluções. "Os ajustes fiscais são duros tanto no nível federal como no estadual, mas estão chegando a um esgotamento. Precisamos fazer coisas novas", disse. "No caso da LRF, temos que fazer uma reavaliação mais geral para ver o que funcionou ou não para termos mecanismo de atuar de forma prévia, e não somente na forma de socorro", disse.

O debate sobre as mudanças na LRF, no entanto, já despertam alertas. Felipe Salto, diretor do Instituto Fiscal Independente (IFI), defendeu atenção para a discussão. "Qualquer flexibilização de regra é preocupante. Esse problema federativo está virando cada vez mais um problema para o governo central e precisamos ver para onde vai caminhar esse debate", disse.

Mais recente Próxima

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Em coletiva em Washington, o presidente do BC afirmou ainda que, quanto mais transparência na política monetária, menor o ruído

Campos alerta para falta de liquidez em países de baixa renda e em crédito privado

Desempenho das negociações foi influenciado pela valorização do salário mínimo em janeiro

Reajustes salariais negociados em março ficaram 85,7% acima do INPC, aponta Dieese

A agenda econômica internacional é mais esvaziada hoje, com destaque para as falas de dirigentes do Federal Reserve

Dólar sobe e Ibovespa cai após falas duras de dirigentes do Fed e à espera de Campos Neto

Companhia tem como meta ambiental zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050

Nexa Recursos Minerais obtém financiamento vinculado a compromissos ESG

País terá cerca de 470 mil assentos, 51% a mais do que em 2023 e 12% acima dos níveis prévios à pandemia

Iberia baterá recorde na oferta de assentos entre Brasil e Espanha em 2024

“Se pudermos manter os empregos e o crescimento dos salários, com inflação indo para meta, podemos deixar os juros onde estão”, disse o presidente da distrital do Fed, que destacou ainda que não está "com pressa para cortar juros", mas sim "confortável sendo paciente”

Corte nos juros será possível apenas no fim do ano, diz Bostic, do Fed de Atlanta

Empresa é dona de marcas como Carolina Herrera e Paco Rabbanne

Grupo de beleza espanhol Puig almeja IPO de 14 bilhões de euros

Analistas avaliam que a fusão enfrentaria forte resistência de órgãos reguladores

Negociações entre Azul e Gol podem envolver troca de ações, diz agência

A reconsideração dependeria de ataques israelenses aos centros nucleares, segundo o general

Irã admite que poderia usar programa nuclear para fins militares

Motivo da volta, segundo a Fazenda, é a agenda econômica em Brasília e negociações com o Congresso

Haddad antecipa volta de Washington para esta quinta-feira