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Economia

Para controlar gasto público, governo decide reajustar salário mínimo só pela inflação

Estimativa da área técnica é de economia de R$ 7,6 bilhões em 2020. Fórmula atual leva em conta variação do PIB
Governo estuda corrigir salário mínimo somente pela inflação a partir de 2020 Foto: REPRODUÇÃO
Governo estuda corrigir salário mínimo somente pela inflação a partir de 2020 Foto: REPRODUÇÃO

BRASÍLIA - A equipe econômica vai propor que o reajuste do salário mínimo seja feito sem ganho real para os trabalhadores. Segundo técnicos do governo, a opção será estabelecer apenas a inflação como parâmetro para a correção do piso nacional em 2020, o que ajuda a controlar as contas públicas. O impacto positivo no próximo ano pode chegar a R$ 7,6 bilhões, segundo estimativas da área técnica.

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Hoje, o salário mínimo está em R$ 998. A atual fórmula de cálculo do reajuste foi fixada em 2007 e leva em conta o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes mais a inflação do ano anterior, medida pelo INPC.

Isso garantiu, nos momentos de crescimento da economia, que o ganho do salário mínimo superasse a inflação, ajudando a reduzir desigualdades e estimulando o consumo das famílias. A regra, no entanto, também fez aumentar as despesas públicas acima da inflação nos últimos anos, o que contribuiu para a piora do resultado das contas do governo.

O governo precisa colocar a previsão do reajuste do mínimo no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) do próximo ano - que tem que ser apresentado até o dia 15 de abril - porque o piso nacional é referência para o pagamento de benefícios previdenciários, assistenciais e trabalhistas. Mais de 65% dos benefícios pagos pelo INSS em janeiro de 2019 possuíam valor de um salário mínimo, o que representa um contingente de 22,9 milhões de pessoas.

Presidente vai decidir

O Ministério da Economia ainda estuda como será a política de reajuste do mínimo nos anos seguintes. A possibilidade mais forte, neste momento, é definir apenas a inflação. Integrantes da equipe de Guedes lembram, por outro lado, que o crescimento do PIB está patinando nos últimos anos e que economia está praticamente estagnada. Isso faz com que o reajuste do mínimo já fique bem próximo da inflação. Por isso, técnicos do governo não descartam manter a regra que estava em vigor até o ano passado. A decisão final será do presidente.

Dados da antiga Fazenda apontam que, se for mantida a regra de reajuste do mínimo nos anos seguintes, a medida poderia gerar uma economia de R$ 69 bilhões em três anos, a partir de 2020. O alívio nas contas é explicado pelo fato de a maior parte das aposentadorias do regime geral estar vinculada ao mínimo, assim como os benefícios assistenciais e trabalhistas. O teto do INSS, o Benefício de Prestação Continuada (BPC, pago a idosos pobres e pessoas com deficiência de qualquer idade) e o abono salarial são vinculados e seguem o mínimo.

Por isso, especialistas defendem uma nova regra pela qual o piso nacional só será reajustado tendo como base a variação dos preços medida pelo IBGE. Gabriel Leal de Barros, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado, afirma que a melhor decisão técnica e fiscal é dar apenas a inflação.

- Dar alguma coisa acima da inflação vai comprimir a margem fiscal e pode comprometer o teto de gastos. Hoje, menos de 10% da despesa federal são passíveis de flexibilidade. Quando o governo define uma política de salário mínimo acima da inflação, cria uma inércia de gasto, um crescimento automático que o governo não tem controle. O problema de reajustar acima da inflação é esse - disse Barros.

evolução
Valor real do salário mínimo
(Trazido a valor de hoje, ele mostra que o
poder de compra foi preservado ao longo dos anos)
(em R$)
998
988,04
978,95
988,62
975,74
960,37
946,65
926,05
849,21
854,39
2019
JAN
2010
11
12
13
14
15
16
17
18
Variação do Índice Nacional
de Preços ao Consumidor (INPC)
(em %)
11,28
6,58
6,45
6,23
6,20
6,08
5,56
3,43
2,07
0,35
2019
JAN
2010
11
12
13
14
15
16
17
18
Economia estimada com o
reajuste do salário mínimo
apenas pela inflação
Total de benefícios
previdenciários e
acidentários do INSS
35 milhões
R$ 7,6
bilhões
Em 2020
Total de pessoas do INSS
que recebem o mínimo
22,9 milhões
(65,4% do total)
R$ 22,2
bilhões
Em 2021*
R$ 39,1
bilhões
Total de benefícios
assistenciais (sempre no valor
de um salário mínimo)
Em 2022*
4,6 milhões
*Se mantida a regra nos anos seguintes
Fontes: Ministério da Economia, Ipeadata e IBGEFontes
evolução
Valor real do salário mínimo
(Trazido a valor de hoje, ele mostra
que o poder de compra foi preservado
ao longo dos anos)
(em R$)
998
854,39
2019
JAN
2010
11
12
13
14
15
16
17
18
Variação do Índice Nacional
de Preços ao Consumidor
(INPC)
(em %)
11,28
6,45
0,35
2019
JAN
2010
11
12
13
14
15
16
17
18
Total de benefícios
previdenciários e
acidentários do INSS
35 milhões
Total de pessoas do INSS
que recebem o mínimo
22,9 milhões
(65,4% do total)
Total de benefícios
assistenciais (sempre no valor
de um salário mínimo)
4,6 milhões
Economia estimada com o
reajuste do salário mínimo
apenas pela inflação
R$ 7,6
bilhões
Em 2020
R$ 22,2
bilhões
Em 2021*
R$ 39,1
bilhões
Em 2022*
*Se mantida a regra nos anos seguintes
Fontes: Ministério da Economia, Ipeadata e IBGEFontes

Tema deve gerar embates

O economista alerta também que o governo precisará ter muita habilidade política, já que o tema promete gerar embates na Câmara e no Senado:

- Vai ter que ter muita habilidade política para tocar isso e não congestionar a agenda econômica. O salário mínimo não é uma agenda fácil.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas considera que os ganhos de produtividade já são naturalmente incorporados aos salários dos trabalhadores e que reajustar o mínimo acima da inflação neste momento pode aumentar o desemprego:

- Não adianta subir o salário mínimo agora. Se resolver subir, só vai prejudicar esses 13 milhões de pessoas desempregadas. Dizer que há desempregados não é argumento para reajuste, é argumento para ter políticas fiscais adequadas para colocar a economia numa trajetória de recuperação.