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Economia

Sem alternativas, governo recorre a medidas com potencial de injetar mais R$ 66 bi na economia

Ações podem ajudar a equipe econômica a assegurar a taxa de crescimento de 3% para este ano
Notas de cem e cinquenta reais Foto: Agência O Globo
Notas de cem e cinquenta reais Foto: Agência O Globo

BRASÍLIA - Num cenário de retomada da atividade ainda patinando, baixa popularidade do governo e com um contingente de 13 milhões de desempregados em ano de eleições, o governo recorre a medidas sem impacto fiscal para tentar estimular a economia. Sem margem de manobra para iniciativas mais ousadas, as ações incluem a redução de depósitos compulsórios , já feita pelo Banco Central, que vai liberar R$ 25,7 bilhões para empréstimos, e a permissão para que trabalhadores de qualquer idade possam sacar recursos do PIS/Pasep depositados até 1988, o que pode resultar em estímulo de R$ 15 bilhões. Aliadas a outras iniciativas, estas propostas têm potencial de injetar até R$ 66 bilhões na economia.

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Está nessa lista ainda a regulamentação do uso do FGTS para garantir empréstimos consignados, iniciativa que começou a ser discutida há mais de um ano e que pode injetar entre R$ 10 bilhões e R$ 18 bilhões na economia em 2018. Os técnicos do governo avaliam também que o pagamento dos acordos relativos a perdas com planos econômicos também terá efeito benéfico ao injetar pelo menos R$ 7,2 bilhões.

O ministro do Planejamento, Esteves Colnago, disse nesta terça-feira ao GLOBO que o governo negocia com o relator da medida provisória (MP) do PIS/Pasep, Lasier Martins (PSD-RS), a abertura de uma janela para permitir saques em qualquer idade. A MP diminui de 70 para 60 anos a idade em que o saque é permitido. O relator, contudo, quer ampliar a permissão e tem a simpatia do governo. A equipe econômica negocia com a Caixa e a Febraban para agilizar a regulamentação do uso de parte dos recursos da conta do FGTS como garantia a empréstimos consignados para trabalhadores do setor privado.

INICIATIVAS DE CURTO PRAZO

Apesar de o governo estar concentrado em medidas que reequilibrem as contas públicas, como a privatização da Eletrobras e as negociações sobre a chamada cessão onerosa — que renegocia contrato com a Petrobras —, essas ações podem ajudar a equipe econômica a entregar o crescimento de 3% estimado oficialmente para este ano.

Medidas de estímulo à economia
Governo busca incentivos que não pesem sobre as contas públicas
15 bi
25,7 bi
Redução de compulsórios no Banco Central
Saque de recursos do PIS/Pasep
Total
Hoje uma MP libera que trabalhadores com mais de 60 anos saquem os recursos depositados antes de 1988. O governo discute abrir uma janela para que pessoas de qualquer idade possam fazê-lo.
R$ 65,9
bilhões
Diminuição da parte o dinheiro que os clientes depositam no banco e que as instituições são obrigadas a deixar parada no BC
7,2 bi
18 bi
Planos econômicos
Uso do FGTS como garantia para consignados privados
O governo aprovou uma lei que permite o uso da multa do FGTS e de 10% do saldo da conta como garantia para empréstimos consignados privados, uma forma de tentar baixar os juros. Falta regulamentar.
Os bancos fecharam um acordo com poupadores para ressarcir compensação das perdas dos poupadores com os planos econômicos Bresser (1987), Verão (1989) e Collor 2 (1991).
Fonte: Ministério do Planejamento
Medidas de estímulo
à economia
Governo busca incentivos que
não pesem sobre as contas públicas
Total
R$ 65,9
bilhões
25,7 bi
Redução de compulsórios
no Banco Central
Diminuição da parte o dinheiro que os clientes depositam no banco e que as instituições são obrigadas a deixar parada no BC
18 bi
Uso do FGTS como garantia para consignados privados
O governo aprovou uma lei que permite o uso da multa do FGTS e de 10% do saldo da conta como garantia para empréstimos consignados privados, uma forma de tentar baixar os juros. Falta regulamentar.
15 bi
Saque de recursos do PIS/Pasep
Hoje uma MP libera que trabalhadores com mais de 60 anos saquem os recursos depositados antes de 1988.
O governo discute abrir uma janela para que pessoas de qualquer idade possam fazê-lo.
7,2 bi
Planos econômicos
Os bancos fecharam um acordo com poupadores para ressarcir compensação das perdas dos poupadores com os planos econômicos Bresser (1987), Verão (1989) e Collor 2 (1991).
Fonte: Ministério do Planejamento

A injeção de novos recursos na economia, aliada a medidas que barateiam o crédito, possibilita que os cidadãos consigam pagar suas dívidas e, ainda, consumir. É nisso que o governo aposta. O movimento é similar ao saque das contas inativas do FGTS, mas o governo sabe que, dessa vez, o estímulo deve ocorrer em uma proporção bem menor. O saque, realizado no ano passado, possibilitou um estímulo de R$ 40 bilhões e deu uma ajuda importante para a retomada econômica. Em 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 1%, após dois anos de retração. Já não existe, porém, espaço para repetir um impulso de curto prazo de igual magnitude.

O economista-chefe da Austing Rating, Alex Agostini, acredita que as medidas podem dar um impulso extra, mas somente se forem associadas a um contexto de retomada da economia, com recuperação do mercado de trabalho:

— Essa medidas, isoladas, têm pouca força. Mas conjugadas com o cenário macroeconômico favorável, com setores voltando a empregar, podem ajudar. No caso do compulsório, os bancos têm mais recursos para emprestar. Mas quem garante que os bancos vão emprestar? E se os bancos emprestarem, vai ter tomador? O mercado de trabalho precisa se restabelecer.

Neste ano, a estimativa oficial de crescimento é de 3%. Técnicos do governo, no entanto, reconhecem que a economia perdeu fôlego, e analistas de mercado já preveem crescimento de 2,76%, conforme boletim Focus divulgado na segunda-feira. A equipe econômica, contudo, sustenta que um PIB de 3% ainda é crível.

MERCADO SE AJUSTA À RETOMADA 'MAIS GRADUAL'

O economista Gabriel Leal de Barros, da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado Federal, explica que o mercado está readequando expectativas após um otimismo com o resultado de 2017. A própria IFI estima que o país terá um crescimento de 2,7% neste ano. Ele cita que, no ano passado, o saque do FGTS e a liberação de parte dos recursos do PIS/Pasep impulsionaram a economia, mas os indicadores “mais recorrentes” apontam para uma retomada muito mais gradual se não houver impulsos extraordinários tão fortes:

— No ano passado, o FGTS funcionou como um impulso temporário muito forte, ajudou a acelerar. Os demais fatores indicam uma retomada muito mais gradual. Esse quadro não mudou.