O mau desempenho da arrecadação federal em maio, com o pior resultado para o mês em sete anos, torna o cumprimento da meta fiscal do governo federal - déficit primário de R$ 139 bilhões - mais dependente das receitas extraordinárias. Analistas alertam, porém, que muitas das receitas extras projetadas atualmente oferecem risco, como concessões e permissões nas áreas de petróleo, gás e energia, e principalmente as que devem resultar de Medidas Provisórias (MPs) ainda sujeitas a alterações, como o novo Refis - o Programa Especial de Regularização Tributária (Pert) - e a reoneração da folha de pagamentos.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão do Senado que elabora estimativas para as receitas do governo central, calcula para 2017 total de R$ 71,92 bilhões em receitas extraordinárias. Gabriel Leal de Barros, economista e diretor adjunto do IFI, diz que as receitas esperadas com as diferentes rodadas de "Refis", como são chamados os parcelamentos tributários especiais, chegam a R$ 25,55 bilhões, o que representa 36% dos recursos extraordinários projetados para o ano pela instituição. Desse valor, estima-se que R$ 15,55 bilhões devem ser arrecadados por conta de edições passadas de Refis, em programas oferecidos em 2009, 2013 e 2014, aponta o IFI no Relatório de Acompanhamento Fiscal de junho.
O mais novo Refis - o Pert - deve trazer, segundo cálculos do IFI, os outros R$ 10 bilhões. Barros ressalta que esse parcelamento em particular, proposto por meio da MP 783/17, representa um risco maior. A MP anterior - MP 766/2017 - estabelecia um parcelamento com regras mais rígidas aos contribuintes e caducou ao fim de maio sem ser convertida em lei. A nova MP já surgiu com condições mais generosas de abatimento de multas e juros e corre risco de ser alvo de mudanças durante a tramitação no Congresso, diz ele, o que pode resultar em receitas menores que as estimadas.
Embora em grau menor, também correm risco, diz Barros, os R$ 24 bilhões em receitas estimadas com concessões e permissões. O valor contempla leilões nas áreas de petróleo e gás, energia elétrica e aeroportos, incluindo as receitas dos já concedidos. Estão em situação parecida as receitas estimadas com a tributação da abertura de capital de empresas como IRB Brasil RE e BR Distribuidora.
A expectativa, diz Barros, é que o governo central termine 2017 com um déficit primário de 2,2% do PIB, descumprindo a meta. Os Estados e municípios, porém, projeta o IFI, devem encerrar o ano com superávit de 0,07% do PIB, o que contribuiria para um déficit de 2,18% no consolidado, critério no qual a meta deve ser atingida.