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Coluna no GLOBO

Alívio no varejo

(Míriam Leitão está de férias)

O crescimento acima do esperado nas vendas do varejo em janeiro (0,9%) e a revisão para melhor do número de dezembro trouxeram alívio para as projeções do PIB do primeiro trimestre. Isso porque a indústria já havia tido uma forte queda em janeiro, e os dados do consumo no quarto trimestre vieram fracos, segundo o economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos. “Tinha gente começando a ficar preocupada, mas o número veio forte e mostra que o consumo está se recuperando não só pela liberação do FGTS no ano passado”, explicou. A expectativa é de nova alta de 0,5% no varejo em fevereiro, segundo o Itaú Unibanco.

Mais consistente

Para Silvia Matos, do Ibre/FGV, o consumo das famílias deve acelerar de 1%, em 2017, para 3% em 2018. Se no ano passado houve forte influência da queda da inflação e do FGTS, que injetou R$ 45 bilhões na economia, este ano, a alta será mais consistente, pela melhora no mercado de trabalho e pela queda das taxas de juros. “Os números estão em linha com o que a gente está esperando. A recuperação tem muita volatilidade, mas a tendência é de números mais fortes ao longo do ano. Para o PIB do primeiro trimestre, a gente estima alta de 0,7%, em relação ao quarto trimestre”, explicou. Para o varejo ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, a projeção da FGV é de crescimento de 6% em 2018.

Ganhos opostos

Segundo o economista Gabriel de Barros, da Instituição Fiscal Independente (IFI), a arrecadação do governo deve se beneficiar este ano da forte recuperação da indústria. Segundo o Boletim Focus, do BC, a estimativa é de alta de 4% no setor. “A indústria é mais tributada do que os serviços. Então, quando ela cresce mais, o governo também arrecada mais. Isso ajudará a dar uma folga para se cumprir a meta de déficit primário de 2018”, explicou. Por outro lado, lembra Silvia Matos, é o setor de serviços quem mais gera empregos no país. Ou seja, o governo ficará dividido entre torcer por arrecadar mais e combater a crise fiscal, ou ter uma melhor geração de emprego que traga alívio ao mercado de trabalho.

Truque em família

A acusação da CVM contra a família Batista, revelada ontem pelo “Valor”, mostra como teria sido o crime de manipulação praticado pelos irmãos Joesley e Wesley. Os dois usaram a FB Participações, uma empresa da família, para vender suas ações da JBS, ao mesmo tempo em que o frigorífico recomprava esses papéis. Isso ajudou a segurar a cotação. Assim, Joesley e Wesley, prevendo a queda das ações após a delação, teriam diluído suas perdas, já que na JBS eles detêm menos da metade do capital social. O mico teria sido empurrado para os outros acionistas, preservando o patrimônio da família. A J&F, controladora do frigorífico, diz que “não houve ganho financeiro algum”. A CVM fala em “vantagem indevida” de R$ 73 milhões.

Enxutas

O economista Rafael Passos, da Guide Investimentos, aponta a forte queda de endividamento da Fibria e da Suzano, no setor de celulose, como um indutor do processo de consolidação no setor. Enquanto a relação de dívida líquida sobre a geração de caixa da Fibria caiu para 2,5 anos, patamar bem baixo, a da Suzano caiu para 2,1 anos. “Os preços da celulose subiram 30% nos últimos 12 meses e isso ajudou as empresas a reduzirem dívidas. Como é um setor que precisa de escala, é natural que ocorra um processo de fusões”.

Efeito Ásia

O preço da celulose foi reajustado duas vezes neste ano, após onze altas em 2017, conta Pedro Galdi, analista da Mirae Asset. A demanda está aquecida. Muita gente na Ásia, especialmente na China, deixou a linha da pobreza e passou a consumir, por exemplo, produtos como o papel higiênico. O diferencial das empresas brasileiras é que por aqui o eucalipto cresce mais rapidamente, chega à maturidade em cerca de sete anos. O ciclo em outros países concorrentes demora até o dobro do tempo. A asiática Paper Excellence, que no ano passado comprou a Eldorado, do grupo JBS, agora está interessada também na Fibria.

RECADO CLARO. Para 92% dos eleitores, é importante que o candidato à Presidência defenda o controle de gastos, revela pesquisa CNI/Ibope.

(Com Marcelo Loureiro)

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