Participantes de audiência se mobilizam para impedir fechamento de fábricas de fertilizantes da Petrobras

Sergio Vieira | 10/04/2018, 18h02

Sindicalistas, representantes da cadeia produtiva e políticos da Bahia e de Sergipe se manifestaram nesta terça-feira (10) contra o anunciado fechamento das unidades da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen) nas cidades de Camaçari (BA), e Laranjeiras (SE). Em audiência pública da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) eles prometeram se mobilizar, juntamente com parlamentares, para impedir o fechamento das fábricas, que pertencem à Petrobras.

O senador Eduardo Amorim (PSDB-SE), que requereu a audiência, sugeriu uma reunião com o presidente da República, Michel Temer, para que se obtenha o compromisso de manter as fábricas em funcionamento até o fim de seu mandato, em dezembro. De acordo com Amorim, a intenção inicial da Petrobras era fechar as fábricas em junho. Negociações teriam empurrado o prazo até outubro. E o que se busca é um novo prazo.

— Em outubro estarão faltando só dois meses para o fim deste governo. O razoável é que se deixe a tomada de uma decisão tão relevante, tão estratégica ao agronegócio e à economia deste país para o próximo governo, que terá então um horizonte longo de planejamento e atuação. Tenho certeza que nenhum outro governo fechará estas fábricas — disse Amorim.

Quanto ao motivo alegado pela Petrobras, de que as fábricas representam prejuízo para a empresa, o senador afirmou isso faria parte de um “desmonte proposital” que é tocado pela direção da própria companhia.

Recuperação

Participante da audiência pública, o vice-governador da Bahia, João Leão, disse ter ouvido em reunião recente com Temer que as fábricas não fecharão. O problema, disse, é que este compromisso estaria vinculado à criação de um grupo de trabalho, até agora não efetivada.

Leão sugeriu que façam parte do grupo representantes dos setores agrícola, industrial e sindicais da Bahia e de Sergipe, além dos governos estaduais.

— Não vamos deixar fechar estas duas fábricas. É perfeitamente possível uma estratégia de recuperação para a Fafen Bahia e a Fafen Sergipe. Estamos aguardando o grupo de trabalho. Acredito na palavra do presidente Temer — afirmou.

Petroleiros

Edvaldo Leandro, da Federação Única dos Petroleiros (FUP) afirmou que a categoria ocupará as fábricas, assumirá a gerência e manterá a produção caso a Petrobras decida pelo fechamento.

O senador Otto Alencar (PSD-BA) também disse que o povo baiano se opõe e continuará se opondo "radicalmente" ao fim da Fafen.

— A empresa não será destruída ela canetada de um burocrata - declarou.

O prefeito de Laranjeiras, Paulo Hagenbeck (DEM), afirmou que os prejuízos recentes da Fafen foram “provocados deliberadamente” visando justificar uma futura privatização. Ele e Leão criticaram que a direção da Petrobras tome decisões dessa dimensão sem consultar a presidência da República.

Agronegócio

Os representantes da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, e da Associação Brasileira da Indústria de Suplementos Minerais (Asbram), Ademar Leal, também criticaram o fechamento das fábricas.

Minaré disse ser muito arriscado, do ponto de vista estratégico, depender totalmente do abastecimento externo quando se trata de fertilizantes. E Leal advertiu que o fechamento das fábricas provocará um aumento dos custos para o setor. Ele disse ter recebido "com espanto" a informação de que a Petrobras irá fechar as fábricas.

O chefe de gabinete do Ministério da Agricultura, Coaraci Castilho, também se manifestou contra o fechamento das fábricas de fertilizantes.

Patrimônio estratégico

A senadora Lídice da Mata (PSB-BA) destacou a mobilização de todos os setores produtivos contra a decisão da Petrobras.

— Fica muito claro o isolamento completo da direção da Petrobras no que se refere a este tema. Temos que resistir a esta estratégia de desmonte deste patrimônio absolutamente estratégico ao país, responsável por uma cadeia com dezenas de milhares de empregos — afirmou.

O senador Wellington Fagundes (PR-MT) declarou que a pecuária passará por um grande retrocesso caso as fábricas da Fafen sejam fechadas, o que poderá ter reflexos até na qualidade dos produtos. Ele teme que o uso de fertilizantes de procedência duvidosa abram espaço para questionamentos internacionais, uma vez que os concorrentes são ávidos para nos prejudicar na disputa por mercados.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)