Parlamentares querem que CPMI da JBS seja ‘técnica’

Da Redação | 20/09/2017, 15h25

Senadores e deputados se manifestaram em favor de uma comissão técnica, e não política, na reunião desta quarta-feira (20) da CPMI da JBS. O plano de trabalho da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, apresentado pelo relator, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), foi debatido e aprovado pelos parlamentares. Foram sugeridos, entre outros, o recurso a especialistas externos e o uso de programas de computador para cruzamento de dados, para viabilizar resultados concretos no prazo da comissão, que é de 120 dias.

A JBS é acusada de ter sido beneficiada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na concentração do mercado de proteína de origem animal; e seus executivos, de terem obtido condições excessivamente favoráveis nos acordos de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF).

Alguns parlamentares disseram recear que a CPMI seja “chapa-branca”, criada para atacar o MPF e proteger o governo de Michel Temer. Na reunião anterior, o senador Otto Alencar (PSD-BA) retirou-se do recinto, chamando a comissão de “farsa”.

O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), lembrou o incidente e reiterou a independência de seu trabalho à frente da comissão.

— Ontem, em entrevista, me fizeram essa pergunta. Então me dirigi ao jornalista dizendo o seguinte: não sou funcionário do Planalto, nem do PSDB. Sou extremamente independente. Não tenho um pingo de vaidade pelo poder. Jamais estaria a serviço do Planalto. Em nenhum momento vocês vão perceber que estarei aqui querendo passar a mão na cabeça de quem quer que seja — disse Ataídes.

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) criticou o plano de trabalho e a lista de requerimentos de convocação a depor:

— O plano de trabalho leva a crer que esta CPMI busca outro objetivo. O primeiro ponto diz que é “imperiosa a oitiva de membros e ex-membros do MPF que atuaram oficialmente ou não na negociação do acordo de delação e leniência...” Quero perguntar: onde está o interesse em investigar a JBS? Continuo nesta CPMI, mas quero resistir a qualquer tentativa de transformá-la, comandada pelo Palácio do Planalto para retaliar investigações.

O relator Marun rebateu a crítica:

— Tem muita gente dizendo que está louco para sair. Saia! Ninguém é obrigado a estar em CPI. Mas vir aqui simplesmente colocar objeções, mais do que valentia, eu considero medo.

Outros senadores lembraram que o prazo da CPMI — 120 dias — exige eficiência nos trabalhos.

— Cabe a nós contestar essa suspeita de que estamos diante de uma comissão chapa-branca. Já houve deserções e outras podem acontecer. O tempo é curto. Teremos, a rigor, outubro e novembro, e não tem como adiar para o ano que vem, ano eleitoral — alertou Lasier Martins (PSD-RS).

Ronaldo Caiado (DEM-GO), vice-presidente da comissão, sugeriu que primeiro sejam obtidas informações sobre as diversas investigações que envolvem o grupo J&F, para que depois sejam colhidos os depoimentos. Eduardo Lopes (PRB-RJ) concordou com Caiado. Hélio José (PMDB-DF) elogiou a “equipe altamente qualificada” responsável pela CPMI.

Os trabalhos da comissão foram divididos em sub-relatorias: uma de assuntos fiscais, previdenciários e agropecuários, a cargo do deputado federal Hugo Leal (PSB-RJ); e outra para investigar contratos, entregue ao deputado Delegado Francischini (SD-PR), que enfatizou o objetivo de dar um “direcionamento técnico” à CPMI.

— Nosso objetivo sempre foi técnico. Como delegado da Polícia Federal que coordenou várias operações, fomos a favor de que fossem retirados, neste primeiro momento, todos os requerimentos que podiam dar um caráter de disputa político-ideológica — disse Francischini.

A reunião foi suspensa às 13h30, quando ia começar a votação de 49 requerimentos de informações, em razão da abertura da ordem do dia na Câmara. A retomada foi marcada para 9h desta quinta-feira (21).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)