Colapso hídrico no DF exige captação emergencial do Lago Paranoá, dizem especialistas

Da Redação | 11/05/2017, 21h27

Sem obras emergenciais, o Sistema do Descoberto, responsável por mais de 60% do abastecimento de água do Distrito Federal, pode entrar em colapso em 2017. A conclusão é de representantes do governo e especialistas ouvidos nesta quinta-feira (11) pela Comissão Senado do Futuro. O objetivo da audiência era debater as restrições no abastecimento de água no Distrito Federal e em outras cidades do Brasil.

O presidente da comissão, senador Hélio José (PMDB-DF), que pediu a audiência, tem criticado a decisão do governo do Distrito Federal de captar água do Lago Paranoá para amenizar o problema. Durante a audiência, ele criticou o fato de a bancada federal não ter sido incluída na discussão sobre o tema. O senador disse que é preciso investir em obras definitivas e não em uma solução provisória.

— Não era muito mais razoável juntar todos os esforços nossos para ajudar na construção e finalização da adutora de Corumbá IV, para que a gente tenha rapidamente a solução definitiva do problema e não uma obra paliativa? A captação do Lago Paranoá,  além de ser mais um elefante branco construído com os poucos recursos que temos, ainda coloca em risco um cartão postal do Distrito Federal — questionou.

Raquel de Carvalho Brostel, assessora  de Meio Ambiente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), explicou que a obra para captação de água do Lago Paranoá  já foi iniciada no dia 8 de maio, com início da operação previsto para outubro. Ela argumentou que a estimativa é de colapso no Sistema Descoberto ainda este ano, caso não sejam concluídas as obras emergenciais.

— Se não tivermos obra em outubro pronta, provavelmente o Lago Descoberto entra em colapso. Hoje, a gente está chegando ao nível de 55%. Com o consumo e com as entradas, nós entraríamos em colapso em setembro ou outubro. A obra emergencial era emergencial mesmo. Nós precisávamos da captação do Paranoá e foi a solução encontrada — esclareceu.

O professor Carlos Henrique Ribeiro Lima, coordenador do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da Universidade de Brasília (UnB), concorda que a situação é alarmante. Segundo o professor, o nível atual dos reservatórios é um dos menores, mesmo se comparado com os níveis de outros anos no final de setembro, ou seja, depois da seca. Para ele, no momento, não há muitas alternativas melhores que o uso da água do Lago Paranoá.

Previsibilidade

Embora concordem com a emergência de uma solução, os especialistas discordam sobre a possibilidade de prever, com antecedência, a crise.

O diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Diógenes Mortari, explicou que, por maior que seja um reservatório ele sempre vai depender da dinâmica de entrada e saída de água, que inclui as chuvas. No Distrito Federal, destacou, já são três anos com chuvas abaixo da média, o que aumentou o problema.

Jalles Fontoura de Siqueira, presidente empresa responsável pelo abastecimento de água em Goiás (Saneago), alegou que a crise não atinge apenas o Distrito Federal, mas  toda a Região Centro-Oeste. Entre as razões dessa crise no Distrito Federal e cidades do Entorno, está o crescimento demográfico, a ocupação desordenada e a degradação de áreas de preservação e nascentes.

O professor da UnB concorda que houve uma diminuição drástica nas chuvas nos últimos anos, além de aumento na temperatura. Ainda assim, ele disse que a situação vivida hoje já era prevista desde o ano 2000.

O presidente do Conselho de Saúde do Distrito Federal, Helvécio Pereira da Silva, demonstrou preocupação com o impacto da crise hídrica na saúde da população. Para ele, a falta de água e é responsabilidade de todos. O clima do Distrito Federal, lembrou, é conhecido do governo e o mau uso da água é responsabilidade também dos cidadãos.

Medidas de controle

O presidente da Adasa negou que tenha havido negligência no trato do problema. Ele lembrou que a agência intensificou o monitoramento e emitiu, em 2016, várias regulações e medidas de controle, como o estabelecimento de limites para iniciar o regime de restrição no consumo. Além disso, citou ações do governo para conscientizar a sociedade sobre o tema.

Já o presidente da Saneago alegou que a empresa está tomando providências, como a perfuração de poços profundos, a ampliação e melhorias nos sistemas existentes e a continuidade da obra do Sistema Produtor Corumbá, que pode atender cidades do Distrito Federal e do entorno. Essa obra, explicou, tem complexidade elevada, o que torna difícil a execução. A meta é atingir, na primeira etapa, 1,3 milhão de habitantes e, na segunda etapa, 2,9 milhões de habitantes.

Tanto o presidente da Adasa quanto o professor Carlos Henrique reconheceram na crise uma oportunidade de crescimento.  O representante da agência disse que é hora de aumentar a transparência e fortalecer a relação com a sociedade, com educação para evitar o desperdício, por exemplo. Já o professor lembrou que obras estruturais só costumam ser feitas em situações críticas, como a que está sendo vivida agora.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)