Goldfajn vê estabilização da economia e diz que 'o pior pode ter ficado para trás'

Da Redação | 04/04/2017, 15h16

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta terça-feira (4), que a economia passa por um momento de estabilização e que “há sinais de que o pior pode ter ficado para trás”. Em resposta à senadora Lídice da Mata (PSB-BA), Goldfajn disse que “a  evidência sugere uma retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017 e um crescimento mais vigoroso em 2018”.

Pouco antes, o presidente do BC disse que os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que em fevereiro a economia brasileira gerou 36 mil postos de trabalho formais. Esse foi o primeiro resultado positivo após uma sequência de 22 meses, desde março de 2015, de queda no emprego.

Os senadores Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Kátia Abreu (PMDB-TO) cobraram a redução das taxas de juros dos empréstimos dos Fundos Constitucionais do Norte (FNO), Nordeste (FNE) e Centro-Oeste (FCO). Goldfajn respondeu que a Resolução 4561/2017, que define os encargos financeiros desses fundos, reduziu as taxas em 0,5 ponto percentual.

Entretanto, Caiado discordou e sustentou que, na verdade, houve um aumento, já que, segundo ele, a taxa anterior era de 4,5% e o Banco do Brasil, numa feira de agronegócio em Goiás, cobrava juros de 9,25% ao ano, que o parlamentar considerou incompatível com a atividade.

Bezerra afirmou que o Banco do Nordeste tem “entesourado” mais de R$ 25 bilhões do FNE, pela ausência de interesse dos tomadores de empréstimos diante das taxas elevadas cobradas nessas linhas de financiamento.

O parlamentar observou que, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) em que o assunto foi decidido, o Ministério da Integração Nacional não apresentou sua proposta, o que levou o órgão colegiado a optar por uma redução no mesmo percentual aplicado à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

Para Bezerra, com isso não foi cumprida a lei que manda aplicar um coeficiente para redução de desigualdades regionais. Ele e Caiado sugeriram uma reunião emergencial do CMN para ajustar as taxas dos fundos constitucionais e evitar perdas para as atividades produtivas das três regiões.

Já Lídice apresentou críticas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) à mudança no cálculo da TJLP. Goldfajn explicou que a Taxa de Longo Prazo (TLP) irá substituir a TJLP nos contratos firmados a partir de 2018. O presidente do BC ressaltou que a TLP irá contribuir para a queda sustentada da taxa de juros estrutural da economia.

— A TLP, calculada como parâmetro de mercado, ampliará a potência da política monetária, contribuindo para o controle da inflação ao menor custo para a sociedade.

Concentração

Após observar que apenas quatro bancos concentram 80% dos ativos bancários no país, o senador Armando Monteiro (PTB-PE) cobrou a redução de barreiras para a entrada de instituições financeiras estrangeiras no país. Goldfajn defendeu o fim da exigência de um decreto presidencial para a operação de banco estrangeiro no Brasil e previu que a própria recuperação da economia estimulará a vinda de instituições de outros países.

Ricardo Ferraço (PSDB-ES) perguntou sobre as medidas tomadas pelo BC para a queda das taxas de juros, que classificou como “imorais e indecentes”. Goldfajn notou que a redução do custo do crédito é um dos pilares da agenda de trabalho "BC+", anunciada em dezembro do ano passado.

A agenda "BC+", segundo o presidente da instituição, prevê várias ações para a redução sustentável do spread bancário, o que propicia condições para tornar o crédito mais barato. Entre essas ações estão incentivar a adimplência e a agregação de garantias, diminuir os custos administrativos, aumentar a concorrência no sistema e diminuir subsídios cruzados.

Questionado por Kátia Abreu, Goldfajn considerou as cooperativas de crédito essenciais para o aumento da concorrência e a consequente queda nas taxas de juros cobradas de empresas e consumidores.

Vulnerabilidade

Apesar dessas incertezas sobre o cenário externo, Goldfajn disse que não pode ser descartada a possibilidade de um cenário global “mais benigno para o crescimento”, com elevação dos preços das commodities, o que beneficiaria alguns países emergentes, inclusive o Brasil.

— A atual política econômica doméstica mudou de direção, embarcando numa agenda de reformas e ajustes que busca fortalecer os fundamentos da economia, colocando a dinâmica das contas públicas em ordem, reduzindo a inflação e ancorando as expectativas.

Para o presidente do BC, vários indicadores de confiança têm-se elevado, e a percepção de risco da economia brasileira tem diminuído. Ele notou que a inflação brasileira caiu de 10,7% em dezembro de 2015 para 4,8% em fevereiro de 2017.

A audiência desta terça-feira, presidida pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), cumpre determinação do Regimento Interno do Senado, que determina quatro reuniões ao ano, a cada três meses, para examinar a política monetária.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)