Em debate no Senado, especialistas norte-americanos não arriscam palpites sobre resultado das eleições dos EUA

Da Redação | 28/10/2016, 18h34

Faltando apenas doze dias para o final da votação nos Estados Unidos – em muitos Estados, os eleitores já estão votando – dois especialistas, uma democrata e um republicano, não se arriscaram a fazer prognóstico sobre o vencedor, se Hillary Clinton ou Donald Trump. Reunidos pela Embaixada dos Estados Unidos e pelo Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) na tarde de quinta-feira (27), Penny Lee, a democrata, e David Kramer, o republicano, falaram do sistema eleitoral, responderam dúvidas da plateia, defenderam seus candidatos, criticaram os adversários, comentaram as pesquisas eleitorais, mas disseram que o resultado ainda é incerto. O encontro ocorreu no auditório do ILB, no Senado.

Estrategista política e de comunicação, além de analista de veículos de comunicação americanos, Penny Lee, que já foi conselheira dos Democratas no Senado dos EUA e é membro do partido, disse que a situação está estável, mas que Hillary tem algumas vantagens, como a dianteira em alguns Estados-chave e a grande aprovação do governo do presidente Barak Obama. Além disso, ela se mostrou confiante que as pessoas vão optar por uma pessoa que passa mais confiança, segurança e conhecimento sobre todos os assuntos em pauta.

David Kramer já foi candidato ao Senado pelo Partido Republicano e é membro do comitê nacional do partido. Tem também experiência em campanhas. Ele começou explicando que “Trump não é um acidente”, que sua eleição interna aconteceu de forma legítima e extremamente disputada, cumprindo todo o processo. Ele acredita que ele foi brilhante em cativar os que não gostam de política e se mostrar como alguém fora deste universo. Disse também que ele é alguém não convencional, que não segue o manual do candidato e que isso às vezes surpreende, mas que traz apoios.

Pesquisas

Os dois também abordaram as pesquisas eleitorais, mas disseram que o peso delas é relativo, pois podem se referir a Estados pouco representativos, mas admitiram vantagem relativa de Hillary Clinton no quadro geral delas. Também explicaram que, nos Estados Unidos, “são quase que 51 eleições estaduais”, com alguns locais com peso muito maior que outros e cada um com suas regras próprias. Penny Lee, por exemplo, disse que votou antes de vir para o Brasil e que tinha cerca de 200 pessoas na mesma seção. Já Kramer, disse que no seu Estado, boa parte dos eleitores opta por votar pelos Correios.

Kramer e Lee responderam perguntas sobre o estilo de cada candidato, as propostas e as polêmicas levantadas durante a campanha. Mantiveram as mesmas críticas que um lado faz ao adversário, mas concordaram que, proclamado o resultado, as pessoas vão se unir.

- Se Trump não respeitar o resultado, vai ficar isolado; a maioria vai se unir e nós vamos avançar na democracia no nosso país – disse Penny Lee.

- Ele não disse isso, ele vai aceitar o resultado, se não será repudiado pela maioria – concordou Kramer.

Regras

As regras da campanha – inclusive em comparação com o Brasil – também foram objeto de debate. Tanto a democrata, quanto o republicano, se mostraram satisfeitos com o modelo norte-americano.

- Gastamos entre US$ 4 a 5 bilhões, mas gasta-se também US$ 7 bilhões em anúncio de cerveja e US$ 5 bilhões em anúncio de batata frita - disse David Kramer.

Lá, acima de U$$ 250 dólares doados, o nome do doador é publicado. Segundo Penny Lee, há um mecanismo de aferição pós-eleição que mostra que o número de fraudes ou irregularidades é mínimo, mas ela se mostrou interessada em trocar ideias com universidades e instituições brasileiras a respeito do modelo adotado aqui.

Ainda respondendo a questões dos participantes, tanto a democrata quanto o republicano disseram que a vitória de um ou de outro não deve trazer grande impacto na relação comercial com o Brasil. Até porque, frisaram, há divisões internas nos partidos sobre acordos de livre comércio que também têm que passar pelo Senado nos dois países.

Muro

Já perto do encerramento, Kramer defendeu posições polêmicas de Trump, como a construção do muro na fronteira com o México ou o maior rigor com relação à imigração.

- É nosso direito decidir quem pode ou não entrar no nosso país – afirmou.

Nesta hora, foi rebatido por Lee:

- Isso não faz parte da nossa tradição, mesmo que Trump se elegesse, as pessoas o trariam se volta à realidade. – afirmou a democrata.

O debate foi mediado pelo consultor do Senado Arlindo Fernandes. Ao encerrar os trabalhos, o diretor-executivo do ILB, Helder Rebouças, agradeceu a forma serena e sincera com que os temas foram tratados.

- Foi importante até para desmistificar algumas questões que às vezes nem estão presentes no noticiário. - disse Hélder.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)