'Podemos atrair muitos investimentos', diz indicado para embaixada na China

Sergio Vieira | 17/08/2016, 17h12

A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) aprovou nesta quarta-feira (17), por unanimidade, a indicação do diplomata Marcos Caramuru para a chefia da representação brasileira na China. Durante a sabatina, Caramuru, que também vai responder pela representação brasileira na Mongólia, deu ênfase ao potencial que nosso país tem de atrair volumosos investimentos chineses em infraestrutura, principalmente nas áreas de energia e ferroviária.

O diplomata afirmou que a inserção cada vez maior de empresas chinesas no mercado global, tanto estatais quanto privadas, também tem servido para que essas companhias se adaptem a práticas comerciais mais condizentes com o capitalismo ocidental.

Os senadores Jorge Viana (PT-AC) e Valdir Raupp (PMDB-RO) questionaram mais especificamente a parceria já existente visando a construção da Ferrovia Transoceânica, um mega-empreendimento de 4,4 mil quilômetros que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico, até a costa do Peru. Viana ressaltou que os estudos de viabilidade já realizados sinalizam uma relação "ganha-ganha" que o Brasil pode construir com o gigante asiático, possibilitando ao mesmo tempo a geração de emprego, renda e dinamismo econômico em regiões de nosso país, por meio do escoamento de produtos de grande necessidade para o mercado chinês.

Caramuru lembrou que o Brasil já é hoje o maior fornecedor de produtos alimentícios para a China, e que tanto no caso da Ferrovia Transoceânica quanto nos investimentos na área da energia, os chineses buscam agora definições quanto à modelagem dos negócios e aos riscos cambiais.

— Eles tem todo o interesse em participar destes empreendimentos, na verdade são hoje o país que mais realiza investimentos externos em infra-estrutura em todo o planeta — frisou.

Investimentos

Caramuru ressaltou que, no caso dos investimentos em nosso país, eles serão feitos na quase totalidade por grandes empresas estatais da China. Em relação a investimentos de companhias chinesas em outros países, os valores já passam de U$ 120 bilhões por ano, e o Brasil concorre na atração desses investimentos com nações do sudeste asiático e da Rota da Seda (centro e ocidente daquele continente), áreas prioritárias para a China tanto em termos econômicos quanto geopolíticos.

O país asiático também já vem sentindo os efeitos da crise financeira internacional detonada a partir de 2008 e que produziu efeitos mais fortes nas economias emergentes nos últimos anos, como frisou Caramuru. Após passar cerca de três décadas com um crescimento anual do PIB superior a 10% ao ano, hoje essa taxa gira em torno de 6,5% a 7% por ano.

— Mas é importante lembrar que em setores como o de serviços a economia chinesa continua a crescer mais de 10% ao ano, principalmente em áreas ligadas à tecnologia e informática  — reforçou o indicado.

Partido Comunista

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) questionou acerca da gestão do estado chinês, governado desde 1949 pelo Partido Comunista. Caramuru, que já morou naquele país por mais de 10 anos exercendo funções tanto pelo Itamaraty quanto por meio da prestação de serviços de consultoria, informou que o Partido de fato busca neste caso combinar a fidelidade às orientações partidárias com a meritocracia.

— São muitas as escolas do Partido, em nível federal, regional e municipal, que atuam na formação de gestores. Ninguém pode negar que são de excelente qualidade, contando com a participação inclusive de professores estrangeiros e gigantescas bibliotecas — disse.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou ainda se o grande crescimento chinês nas últimas décadas, responsável pela formação de uma numerosa classe média, poderia possibilitar a demanda por um sistema político mais democrático. Caramuru disse não observar até o momento em nenhum setor da sociedade chinesa a "vontade de copiar a democracia ocidental", mas também percebe naquele país as consequências positivas na política advindas da melhoria da qualidade de vida.

— Ao contrário do que muitos imaginam, vejo a China como um país que é mais governado de baixo pra cima. As municipalidades e governos reginais também tem suas metas, e competem entre si na atração de investimentos. O mesmo se dá entre as empresas estatais — concluiu.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)