Senado entrega a Comenda Abdias Nascimento

Sergio Vieira | 26/11/2015, 16h27

O Senado realizou sessão especial, nesta quinta-feira (26), para a entrega da Comenda Abdias Nascimento, que está em sua segunda edição. A comenda é entregue todos os anos pela Casa a pessoas e instituições que se destacam na luta contra o racismo e pela contribuição da raça negra para a formação do país.

O senador Paulo Paim (PT-RS), que presidiu a sessão, frisou que "o conhecimento é a arma mais eficiente contra o racismo". E que a comenda, criada a partir de iniciativa dele e da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), tem essa missão.

Foram homenageados este ano o ex-governador do Rio Grande do Sul, Alceu Collares; Frei David, militante social e criador da rede de pré-vestibulares e cursinhos Educafro; José Vicente, criador da universidade Zumbi dos Palmares, em São Paulo; e Mari Baiocchi, antropóloga e ativista pelos direitos da comunidade Kalunga, no interior de Goiás. Também receberam a comenda a Fundação Cultural Palmares e, in memoriam, o cineasta Linduarte Noronha e o ex-deputado estadual do Rio Grande do Sul, Carlos Santos.

Linduarte, falecido em 2012, foi o diretor do documentário Aruanda, um dos primeiros a tratar da contribuição cultural dos afro-brasileiros. E Carlos Santos, ex-sindicalista falecido em 1989, foi o primeiro negro a se eleger deputado no Rio Grande do Sul, isto na década de 30 do século passado.

Cristovam Buarque (PDT-DF) lembrou a visita que fez à universidade Zumbi dos Palmares e a sensação de "estranhamento" que teve ali.

— A maioria dos estudantes ali são negros. Algo que os estrangeiros percebem rapidamente quando estão em universidades de nosso país é a baixa presença de negros — disse, fazendo questão de reiterar que "felizmente" esse quadro vem se alterando nos últimos anos graças às políticas de cotas raciais.

Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) lembrou sua participação na Marcha das Mulheres Negras, na semana passada, lamentando o conflito entre as participantes da marcha e os manifestantes que defendiam a volta do regime militar, acampados no gramado em frente ao Congresso Nacional. A senadora disse que se emocionou e aprendeu com as participantes da marcha.

- Diante do preconceito e da ignorância, mesmo sem reconhecimento e depois do conflito elas cantaram, dançaram e celebraram sua cultura - lembrou.

Lídice da Mata, que também preside a CPI do Assassinato de Jovens, manifestou sua preocupação com o aumento da violência racial no país, num quadro de recrudescimento de negros mortos e agredidos pela ação das polícias em diversos estados.

Além dos homenageados, a senadora Ana Amélia (PP-RS) fez questão de citar também outros negros gaúchos que se destacaram, como o cantor Lupicínio Rodrigues, o ex-jogador de futebol Everaldo (campeão do mundo em 1970) e a ex-ginasta Daiane dos Santos. E Lúcia Vânia (PSB-GO) disse que era  importante valorizar os Kalunga e lutar por melhores condições sociais para esse grupo.

Abdias Nascimento, falecido em 2011 aos 97 anos de idade, é uma das maiores referências das lutas anti-racistas no Brasil. Também foi senador representando o estado do Rio de Janeiro entre 1996 e 1999.

Os homenageados

Frei David pediu ao Senado que trabalhe ativamente pela convocação de uma Constituinte exclusiva destinada à reforma política. Disse ser este hoje um anseio dos movimentos sociais, e solicitou à Casa que não aceite propostas conservadoras como a diminuição da idade penal.

Ele pediu também ao Senado para que trabalhe na definição de políticas públicas que diminuam a diferença salarial entre trabalhadoras negras e brancas, e para que derrube as legislações estaduais que tratam dos "autos de resistência", que vê como inconstitucionais.

— Buscam legalizar o extermínio dos jovens negros pelas polícias — denunciou.

Frei David defendeu também a definição de cotas para negros na representação parlamentar e por melhores condições de vida aos povos indígenas, e disse que devolverá a comenda se o Senado decepcionar a causa progressista.

José Vicente disse que vê a homenagem do Senado como um importante reconhecimento da sociedade à universidade Zumbi dos Palmares, que já formou mais de 3.000 jovens.

Mari Baiocchi agradeceu a senadora Lúcia Vânia pela parceria na luta pelos direitos da comunidade Kalunga, e Alceu Collares defendeu um maior engajamento de jovens negros na política.

Também agradeceram a homenagem a presidente da Fundação Palmares, Cida Abreu, e os filhos de Linduarte Noronha e Carlos Santos, respectivamente Leonardo Noronha e Neiva Santos.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)