Ausência de diretor da Petrobras irrita senadores, que cancelam audiência

djalba-lima | 17/11/2015, 15h17

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) cancelou a audiência pública para discutir o endividamento da Petrobras que seria realizada nesta terça-feira (17). O motivo foi a ausência do diretor financeiro da estatal, Ivan de Souza Monteiro, apontado pelo senador José Serra (PSDB-SP) como o "presidente de fato" da Petrobras.

Pela segunda vez, Monteiro não compareceu a uma audiência previamente agendada — na primeira, no último dia 3, a petroleira alegou que uma regra da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) impede que seus diretores informem dados financeiros da companhia no prazo de 15 dias antes da divulgação do balanço trimestral.

A ausência surpreendeu o presidente da CAE, senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que só foi avisado, por mensagem, na noite de segunda-feira. Delcídio considerou a atitude do executivo da Petrobras um desrespeito à comissão e a ele próprio, que acumula a presidência do colegiado com a liderança do governo no Senado.

A suspensão da audiência foi proposta pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que considerou insatisfatória a solução da Petrobras de enviar para a audiência somente o diretor de Governança, João Adalberto Elek Júnior, e a gerente jurídica para Exploração e Produção, Claudia Zacour.

Tasso considerou a ausência uma desfeita com a comissão e com o próprio Senado e disse que se sentia "insultado com o desrespeito". Para ele, com vários acontecimentos envolvendo a Petrobras, a empresa tem obrigação de prestar esclarecimentos ao Senado.

O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) também disse que a Petrobras deve esclarecer notícias preocupantes sobre seu futuro. Já o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) repudiou a tentativa de desrespeitar o Senado e afirmou que, com a ausência, o diretor da Petrobras deixa evidente sua dificuldade de explicar fatos como a dívida da petroleira, que chegou a R$ 500 bilhões este ano.

Gaspetro

José Serra afirmou que um dos temas que pretendia questionar durante a audiência seria a decisão do Conselho de Administração da Petrobras de aprovar, no dia 23 de outubro, a venda de 49% da subsidiária Gaspetro por R$ 1,9 bilhão para a Mitsui Gás e Energia do Brasil. Para o senador paulista, "a venda é lesiva, oportunista e característica da situação da Petrobras à deriva".

Serra lembrou que o presidente da estatal, Aldemir Bendine, recusou-se a comparecer a outros debates importantes no Senado, como os relativos à Lei de Responsabilidade das Estatais (PLS 555/2015) e ao fim da participação obrigatória da Petrobras no modelo de exploração de partilha do petróleo na camada pré-sal (PLS 131/2015).

Delcídio do Amaral observou que nenhum outro presidente da Petrobras recusou-se a comparecer à comissão, mesmo em momentos difíceis. Segundo ele, como na situação da Gaspetro, citada por Serra, há outros ativos à venda pela companhia sobre os quais cabem os mesmos questionamentos.

O presidente da CAE acatou a sugestão de Tasso Jereissati e anunciou a decisão de enviar um ofício ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, relatando a situação. Delcídio disse que "esse tema não ficará assim", referindo-se à recusa, e que Bendine terá que comparecer à CAE, para dar explicação, porque "a Petrobras não é a casa dele".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)