Mais da metade dos assassinatos de jovens no Ceará e na Bahia está ligada ao tráfico de drogas

Da Redação | 11/11/2015, 18h46

Os secretários de Segurança Pública do Ceará e da Bahia informaram à CPI do Assassinato de Jovens nesta quarta-feira (11) que os assassinatos estão cada vez mais relacionados às drogas, especialmente ao crack. No Ceará, de cada dez homicídios, em cerca de sete há o envolvimento de tóxicos. Na Bahia o tráfico é responsável por quase seis de cada dez assassinatos.

Se antes, de acordo com as autoridades, as maiores ocorrências eram de apreensão de maconha, hoje são as de derivados de cocaína. Uma pedra de crack, por exemplo, custa menos que R$ 10,00. Outra consequência do tráfico de drogas, como disse o secretário de Segurança da Bahia, Maurício Teles Barbosa, é a migração da violência para os municípios do interior. Até há pouco tempo, segundo Maurício, 80% das ocorrências policiais estavam concentradas em 20 municípios baianos. Hoje, as mesmas 80% estão espalhadas por 40 municípios.

— A violência tem migrado para municípios onde não há uma infraestrutura de segurança, do Judiciário, do Ministério Público e muito menos políticas públicas responsáveis pela retirada de jovens e de outras pessoas do mundo do crime — informou Maurício.

'Enxugando gelo'

Diante das informações das duas autoridades de segurança, o relator da CPI da Violência contra os Jovens, senador Lindbergh Farias (PT-RJ) comparou a política brasileira de combate às drogas à prática de “enxugar gelo”. Lindbergh admite que esse não é um diálogo fácil a travar com a sociedade, mas disse que as normas atuais causam mortes de policiais, de inocentes e de jovens.

- Vai chegar a um ponto em que teremos que ampliar a discussão sobre o papel das drogas e como desarmar esse conflito. Pode ser uma discussão sobre a legalização e com campanhas fortes contra o consumo, além de  políticas de saúde pública, afirmou o senador do PT do Rio de Janeiro.

A presidente da comissão parlamentar de inquérito também defendeu mudanças na legislação. Segundo a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), a continuidade da atual política de combate às drogas leva a um processo sem fim de realimentação da violência.

— Nós precisamos encontrar outro caminho. Até porque esta lógica não se baseia na vontade ou na bondade de um ou de outro. Ela se baseia nas leis da economia do mercado. É uma economia paralela. Precisamos aprofundar os caminhos para se chegar ao controle financeiro desse mercado — defendeu Lídice.

Mapa da Violência

Os dois secretários de Segurança confirmaram à CPI informação já divulgada pelo Mapa da Violência 2015, de aumento dos casos de mortes por armas de fogo na Bahia e no Ceará. Segundo o estudo organizado por Julio Jacobo Waiselfisz, entre 2002 e 2012, as ocorrências deste crime aumentaram 133,4% na Bahia e 245% no Ceará. No entanto, apresentaram números que mostram uma queda neste tipo de homicídio de 2014 para cá.

O secretário de Segurança Pública do Ceará, Delci Carlos Teixeira, assegurou que os índices de criminalidade estão 10,2% menores neste ano do que em 2014. De acordo com ele, isso é fruto de uma ação integrada entre as polícias, os bombeiros, além de outras autoridades públicas. Para Teixeira, essa parceria é fundamental porque a polícia sozinha não dá conta de coibir a violência.

— São necessárias ações do governo para recuperar as praças. Melhorar a iluminação pública para que a população possa voltar às ruas. Nós temos que colocar esses jovens nas escolas em tempo integral.  Os jovens precisam de espaços para o lazer e para a prática de esportes no período noturno — afirmou Teixeira.

Apesar da redução da violência, de acordo com Teixeira, apenas este ano, 1.380 jovens entre 12 e 24 anos foram assassinados no Ceará. Do total, 1.322 eram do sexo masculino. No ano passado foram 1.601 homicídios. Na Bahia, por sua vez, há registros de 37,4 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Na Região Nordeste a média é de 38 assassinatos para o mesmo grupo de 100 mil pessoas.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)