Mulheres se sentem mais desrespeitadas e desprotegidas, revela pesquisa do DataSenado

Patrícia Oliveira | 11/08/2015, 17h38

Uma em cada cinco mulheres no Brasil já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex. E apesar de 100% das brasileiras conhecerem a Lei Maria da Penha, promulgada há nove anos, elas ainda se sentem desrespeitadas. Ciúmes e bebida aparecem como as principais causas da violência, que já vitimou 18% das mulheres brasileiras.  Aumentaram os registros de violência psicológica e diminuiu a sensação de proteção.

Os dados foram revelados na pesquisa do DataSenado, realizada de 24 de junho a 7 de julho, quando 1.102 brasileiras foram ouvidas na sexta rodada da série histórica sobre violência doméstica e familiar contra a mulher. O trabalho é feito desde 2005, a cada dois anos, com mulheres de todos os estados do país.

— A pesquisa serviu como marco zero, antes mesmo da promulgação da Lei Maria da Penha, para levar ao Parlamento os dados sobre a realidade brasileira e servir de instrumento para a elaboração de legislação de combate às agressões — observou Thiago Cortez Costa, assessor especial da Secretaria de Transparência do Senado, cientista político e mestre em pesquisas sociais.

Uma novidade este ano é o crescimento da percepção do desrespeito: 43% das pesquisadas não se consideram respeitadas hoje, contra 35% de 2013. Apenas 5% consideram que as mulheres são respeitadas no Brasil. Em 2013, eram 10%. As mulheres dizem que são menos respeitadas principalmente na sociedade (57%), mas outras também afirmam sofrer o mesmo tratamento na família (23%) e no trabalho (18%).

Violência

Repetindo índices da pesquisa anterior e reforçando o pessimismo, que tem sido marcante nas pesquisas deste ano, para 63% das entrevistadas a violência contra as mulheres aumentou; para 23%, continua igual; e 13%, diminuiu.

As agressões físicas ainda são majoritárias entre as violências praticadas contra as mulheres, 66%. E a pesquisa também registrou crescimento de 10 pontos percentuais no índice de violências psicológicas, 48% este ano, contra 38% em 2013. Houve, no entanto, redução na violência moral, de 39%, em 2013, para 31%.

Perfil

As mais agredidas ainda são as que têm menor nível de instrução: 27% entre as que cursaram até o ensino fundamental, 18% até o ensino médio e 12% com curso superior. Entre os agressores, 73% não têm laços sanguíneos com a vítima, mas têm relação de afeto e vivem com elas. Assim, 49% das agressões continuam sendo praticadas por maridos ou companheiros, 21% por ex, e 3% por namorados.

Quase a totalidade (97%) das pesquisadas entende que os agressores devem ser processados ou punidos, ainda que sem a concordância da vítima. No universo das maltratadas, 26% continuam convivendo com o agressor; 23% sofrem hostilidades semanais e 67% são vítimas de violências ocasionais. Os ciúmes e o consumo de bebidas alcoólicas são os principais desencadeadores das agressões, 21% e 19% respectivamente.  Também 21% das agredidas ainda não denunciam ou procuram ajuda, 20% buscam socorro na família, 17% vão às delegacias comuns e 11% às delegacias da mulher.

Repercussão

A pesquisa foi apresentada nesta terça-feira (11) na Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher, com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros, do ministro da Saúde, Arthur Chioro, e da ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci.

— Quanto mais pesquisas, mais visível se torna a violência e mais portas e janelas se abrem para que a sociedade se conscientize que não podemos mais conviver com essa lamentável crueldade contra a mulher — afirmou a ministra.

Renan Calheiros ressaltou que levantamentos como esse são uma preocupação do Senado.

— Emanam das pesquisas de opinião subsídios importantes para que possamos tomar decisões e encaminhar respostas mais afinadas com a população — afirmou Renan ao destacar a urgência na aprovação de leis como a que tornou hediondo o crime de feminicídio.

A presidente da comissão mista, senadora Simone Tebet (PMDB-MS), reforçou a importância da consagração da Lei Maria da Penha.

— A lei não tem número, tem nome e sobrenome como todas as mulheres deste país. Ela teve a capacidade de unir todas as ações, na prevenção, assistência e na repressão em todos os Poderes e em todas as esferas. E permitiu colocar na agenda institucional essa grave violência — disse a senadora.

As procuradoras da Mulher no Senado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e na Câmara dos Deputados, Elcione Barbalho (PMDB-PA), destacaram o valor da pesquisa como fonte de informação para subsidiar as políticas públicas. O julgamento dos casos e a punição do agressor também foram apontados por elas como resultado das ações de combate à violência contra a mulher.

Veja abaixo alguns dos números da pesquisa:

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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