Intervenção humana equivale a grande força ambiental, diz físico Luiz Alberto Oliveira

Paulo Cezar Barreto | 24/06/2012, 20h15

O físico Luiz Alberto Oliveira, em sua conferência "Homo civilis (ou Homo sapiens 2.0)" -  a terceira do Fórum Senado Brasil 2012, realizada na sexta-feira (22) – alertou para a “fragmentação e reformatação” dos limites que definem o ser humano, um fenômeno inédito que atribuiu à crescente ação da tecnologia, abrindo a perspectiva do surgimento de novas condições humanas – ou mesmo de uma condição “neo-humana”.

Oliveira citou o pensamento de Hannah Arendt para lembrar que o homem se distingue dos animais tanto pela sua capacidade de trabalhar com as dimensões do passado e do futuro quanto pela necessidade de associação: conforme lembrou, a dimensão política faz parte de nosso ser, e a liberdade e o pensar estão intimamente associados. Porém, Arendt verificou, ainda nos anos 1960, uma distância crescente entre pensamento e conhecimento – o mesmo fenômeno, expresso na destruição da 1ª Guerra Mundial, teria levado o poeta e ensaísta Paul Valéry a declarar que "tudo que sabemos, isto é, tudo que podemos acabou por se opor a tudo que somos".

O físico propõe a aplicação de conceitos da biologia evolutiva para a análise civilizacional, com ênfase nos mecanismos de mutação e hereditariedade. Segundo a teoria de Darwin, pequenas variantes nos descendentes da espécie podem vir a se acumular ao longo do tempo, e mudanças no ambiente agem para selecionar uma ou outra das variantes. Oliveira sublinhou que esse processo ocorre em dois níveis: na dimensão molecular, o ritmo de mutação é “frenético”, enquanto no ambiental verifica-se uma lenta cadência – a vida põe em contato essas duas dimensões do tempo, cada uma com sua carga de imprevisibilidade. No caso do Homo sapiens, lembrou que "sapiens tem um ritmo diferente de homo":

- A capacidade de extravasar o natural trará um novo ritmo de inovação e transformação, mais acelerado que o da própria vida.

Oliveira avalia que a civilização técnica, numa “artificialização” consolidada com a invenção das cidades e exacerbada a partir da Revolução Industrial, levou a um duplo resultado: o conjunto de atividades humanas hoje recobre o planeta de modo equivalente a uma grande força ambiental, e pode-se intervir no nível molecular de todos os organismos vivos, inclusive dos próprios humanos. Nos dois sentidos, para o físico, o conjunto de nossas ações se dobra sobre a própria efetividade da espécie, o que leva a Humanidade a uma “profunda indeterminação”.

Luiz Alberto Oliveira afirma que a dúvida que paira sobre o capitalismo não é mais sobre sua capacidade de expandir-se no espaço, mas de seguir existindo no tempo, e o horizonte da vida artificial, por ser programada com uma finalidade, é um inteiro desvio do pensamento darwiniano até agora – a própria mutação de seres humanos, para ele, despertará questões éticas crescentes. Mas afirma que o amanhã é a construção de nossas escolhas e, diante da crise, devemos ser “a ponte entre aquilo que veio antes e o que virá depois”.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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