Silêncio de Demóstenes provoca discussão na CPI do Cachoeira

Anderson Vieira | 31/05/2012, 13h15

Terminou em tumulto a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira desta quinta-feira (31), marcada para interrogar o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).

Assim que o parlamentar goiano informou que usaria o direito constitucional de ficar calado e não responder a perguntas, o deputado Silvio Costa (PTB-PE) pediu a palavra para repreender Demóstenes. Essa atitude provocou a intervenção do senador Pedro Taques (PDT-MT). Os dois discutiram, e o presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) encerrou a reunião, que durou apenas 30 minutos.

– Seu silêncio é a tradução de sua culpa. Com isso, o senhor diz que faz parte da quadrilha de Carlos Cachoeira, diz que é o braço legislativo da organização criminosa – afirmou Silvio Costa dirigindo-se a Demóstenes.

O deputado pernambucano prosseguiu, afirmando que Demóstenes traiu os parlamentares, os amigos e o Brasil e deveria ser processado por propaganda enganosa:

– Se o céu existir, o senhor não vai para o céu porque lá não é lugar de mentiroso, nem de gente hipócrita e demagoga. Por isso, o senhor terá 80 votos para cassação no Plenário do Senado – disse.

O senador Pedro Taques interveio para criticar a postura de Silvio Costa e defender o direito de Demóstenes Torres de permanecer em silêncio.

– Temos que obedecer à Constituição. Fui procurador da República por 15 anos. Prendi mais de mil pessoas, ouvi mais de duas mil. Um deputado não pode tratar quem quer que seja com indignidade. Não interessa quem seja. Eu entendo que todos devem ser tratados com urbanidade – afirmou Pedro Taques, que pediu em seguida a liberação de Demóstenes Torres.

Diante da continuidade da discussão entre os dois parlamentares, Vital do Rêgo decidiu finalizar a reunião.

Divergências

Ao sair da reunião da CPI, Silvio Costa disse à imprensa que Pedro Taques foi deselegante e desrespeitoso:

– O senador Pedro Taques foi deselegante comigo, pois eu estava falando como líder e ele não podia interromper minha fala para uma questão de ordem para defender o colega. Mas agora ele tirou a máscara e mostrou que é um dos defensores de Demóstenes no Senado.

Pedro Taques, por sua vez, disse que ninguém pode ser humilhado, mesmo aquele que comete o crime mais grave e afirmou que um parlamentar não pode se igualar a criminosos e humilhar quem quer que seja.

– É muita basófia. Não faço parte da chacrinha deste deputado, do séquito deste deputado, portanto, não tenho que bater boca com este deputado. Lugar de desabafo é em boteco, não na CPI – afirmou.

Repercussão

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) classificou o episódio de “espetáculo triste, dispensável e lamentável, que transformou um réu confesso em vítima”.

Para Randolfe, ficou “patente e claro” que Demóstenes não quer contribuir com a CPI. Em sua opinião, é uma decisão que vai pesar contra ele na opinião pública e no próprio Senado.

– Lamentavelmente, é o papel que ele quer cumprir. Não precisa fazer espetáculo disso. Cada vez mais a situação dele se complica. Estou cada vez mais convencido de que a maioria dos colegas da Casa tem convicção de que não tem como o senador Demóstenes não ser responsabilizado pela quebra de decoro – afirmou Randolfe.

O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) minimizou o incidente e lamentou o encerramento antecipado da reunião.

– Essas brigas acontecem vez por outra, mas qualquer cidadão deve ser tratado com respeito. O relevante é analisar este fato para evitar que aconteça de novo. Encerrar a reunião por causa de um tumulto foi um erro. Havia assuntos importantes a serem deliberados e agora temos que deixar para semana que vem – afirmou o deputado fluminense.

Ainda de acordo com Miro Teixiera, a “chapa da CPI está esquentando” à medida que novos documentos relevantes vão chegando e os dados começam a ser cruzados.

– Os cruzamentos de dados vão revelar coisas muito surpreendentes, e o estado de nervos de algumas pessoas vai piorando – comentou.

Depoimentos

Antes da confusão, o presidente Vital do Rêgo anunciou as datas dos depoimentos dos dois governadores convocados pela CPI. O primeiro a depor será Marconi Perillo (PSDB-GO), no dia 12 de junho. No dia 13, será a vez de Agnelo Queiroz (PT-DF).

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

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